terça-feira, 26 de novembro de 2013

OS ROBERT E A ESTRADA DE FERRO




Fenda da Garganta, a primeira foto do livro Rebouças o bairro da harmonia, a segunda daqui.

Como já vimos, a família de Jacques Robert chegou ao Brasil em 1873. Adquiriu um lote na Colônia Argelina, atual bairro Bacacheri em Curitiba, cuja finalidade principal era o abastecimento de horti-fruti da região metropolitana. De uma vida urbana na França, com trabalho em minas de carvão, a família passaria a trabalhar com agricultura no Brasil.
                      
Apenas 3 anos após a chegada da família ao Brasil, no relatório provincial de 15 de fevereiro de 1876, lemos que "os colonos em sua maior parte estranhos a lavoura e dados à vida ociosa, não podiam prosperar, principalmente estabelecidos em um terreno ingrato e limitadíssimo e só com insano trabalho para adubá-lo dificilmente produziria alguma coisa". (grifo meu, para ler o relatório na integra, clique aqui.)

Foi necessário a busca de novas alternativas de trabalho, o que pode ter acontecido pela improdutividade do terreno como visto acima ou pela não adaptação da família à vida rural.

Desde os anos 1870 começou a se pensar e articular a construção de uma estrada de ferro que ligasse o litoral à capital paranaense, para transporte de passageiros e escoamento da produção da erva-mate e da madeira. Depois de muitas idas e vindas, mudanças de construtores e traçado, em 1879 a "Compagnie Générale de Chemins de Fér Brésiliens” recebeu a concessão para a construção da primeira estrada de ferro do Paraná, a estrada de ferro Curitiba-Paranaguá.

Para saber mais clique aquiaqui e aqui.

Autores diferentes fornecem informações diferentes: Segundo Kroetz, a “Chemins de Fér” contratou a "Société Anonyme de travaux Dyle et Bacalan" para realizar as obras.

No ano seguinte, em 1880, começou o trabalho.



O prédio maior ao fundo é a estação ferroviária de Curitiba, em foto de 1883. Do livro de Eduardo Emílio Fenianos, Rebouças: o bairro da harmonia.

Abaixo, as oficinas em foto de 1905, da coleção da prof. Júlia Wanderley, daqui.


A Estação Ferroviária, sem data, provavelmente início do séc. XX, ao fundo o teto das oficinas, daqui.


Segundo a tradição familiar, o imigrante francês Jacques Robert (meu trisavô) trabalhou na construção do trecho Curitiba-Paranaguá. Continuando a construção da malha ferroviária do Paraná trabalharam também o filho mais velho Leonard Robert, o filho Antônio Robert (meu bisavô) e o neto Fernandes Robert (meu avô, nas oficinas).

Eles trabalharam na ferrovia em períodos diferentes:

Jacques de 1880 até seu falecimento em 1907, 
Leonard, provavelmente começou a trabalhar na estrada de ferro junto com o pai Jacques, já que na ocasião contava com 16 anos de idade, trabalhou até seu falecimento em 1907,
os filhos de Leonard: Leonardo, veja aqui,  Jorge Eugênio, veja aqui e aqui e também Luiz Robert, telegrafista, veja aqui.
Antônio por toda a vida, provavelmente de 1890 até 1923, 
meu avô Fernandes por algum tempo, provavelmente de 1913 até 1920,
provavelmente Geraldo Robert, o segundo filho de Antônio e irmão de Fernandes, mecânico em Guajuvira, veja aqui.


Estação de Guajuvira, no centro da foto, escura com placa branca, 1923, foto daqui

Também trabalharam na estrada de ferro:

Alberto Bunde, maquinista, cunhado de Leonard Robert, marido de Rosalina Schultz. Para saber um pouco mais sobre maquinistas e foguistas, leia aqui.
André Legat, marido de Claudine Robert, filha de Jacques, aqui.
Friedrich Gerber, irmão de Helene Gerber e cunhado de Antônio Robert, veja aqui
provavelmente Wilhelm Gerber (Guilherme), outro irmão de Helene também, já que declarou ser mecânico em seu casamento, veja aqui.

Em pesquisa à Inventariança da extinta RFFSA, que encampou todas as companhias ferroviárias anteriores, não encontrei nenhuma referência ao sobrenome Robert no acervo de pessoal em Curitiba. 
Provavelmente Jacques, Leonard, Antônio e Fernandes Robert foram empregados da "Société Anonyme de travaux Dyle et Bacalan" ou da própria "Compagnie Générale de Chemis de Fér Brésiliens”. Segundo informações obtidas essa documentação estaria no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro.




terça-feira, 19 de novembro de 2013

DOCUMENTOS DE JACQUES ROBERT NO BRASIL


1. Referência de chegada do navio "Le Bordelais" com imigrantes franceses ao Paraná, em novembro de 1872. Jacques Robert  pode ou não ter feito essa viagem (a confirmar).


"Rio de Janeiro,  Ministério dos Negócios da Agricultura, Commércio e Obras Públicas, em 16 de Novembro de 1872.
Illmo. Exmo. Snr.
Autorizo V.Exa. a conceder a cada uma das famílias de immigrantes franceses, vindos de Marseille a bordo do navio "Le Bordelais" e estabelecidos na colônia do Assunguy, uma vacca de leite segundo a promessa que lhes foi feita por intermédio da Agência Official da Colonização em virtude do Aviso d'este Ministério de 16 de Agosto do corrente anno.
Deus guarde a V.Exa.
(ass) Francisco do Rego Barros Barretos
Snr. Presidente da Província do Paraná"


2. Documento que relaciona Jacques Robert e família ao navio "Le Bordelais" e ao porto de Marselha, equivocadamente o documento cita o nome do navio como "Bordetet". 


"Illmo. e Exmo. Snr. Dr. Preside. da Província
à Thesouraria da Fazenda, Palácio da Presidência do Paraná, em 16 de Janeiro de 1875.
Frederico Abranches
Robert Jacque, subdito Francez  estabelecido na colônia Argelina, tendo sido engajado como colono na Europa e vindo na "Bordetet" , tem por isso direito a quantia de 5$000 r. valor de uma vacca  e como até hoje não tenha recebido a dita quantia vem por isso solicitar a V.Exa. se digne a ordenar o respectivo pagamento do que.
Curityba, 22 de janeiro de 1875.
(ass) Robert, Jacque
ERMa."


3. Carta em que Jacques Robert solicita pagamento auxílio  financeiro e insumos para a lavoura, conforme o artigo 30 e 31 do decreto 3784, de 19 de janeiro de 1867, veja aqui

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"Illmo. Exmo. Snr. Presidente da província
À Thesouraria da Fazenda para informar. Palácio da Presidência do Paraná, em 6 de Dezembro de 1873.
Frederico Abranches
Robert, Jacques, immigrante francez estabelecido na colônia Argelina, onde pretende residir perpetuamente com sua família que se compõe de seis mebros: elle supplicante, sua mulher de nome Marie Louise, de seu filho Leonard de onze annos e maio de idade, de sua filha Caroline de dez annos e meio, de seu filho Joseph e de Julie estes dois últimos menores, vem humildemente  informar sua Exma. que elle e sua mulher receberão já a quantia abonada pelo artigo 30 do regulamento das colônias do Governo, mas que aos filhos Leonard e Caroline forão esquecidos. Por esse motivo o supplicante vem respeitosamente requerer à V.Exa. lhe conceda os favores do dito artigo, mandando  V.Exa. que pela Thesouraria de Fazenda se lhe dê 20$000 por cada um dos seos dois filhos maiores, e bem assim por elle supplicante e os dois filhos acima, os instrumentos agrários próprios para horticultura.
Elle julga que os seguintes serião sufficientes, para elle e os membros maiores de sua família, à saber:
Tres machados
Tres alviões
quatro enxadas
Tres pás
Tres cortadeiras
Um serrote 
dois martellos: um grande e um menor
dois formões: um grande e um menor
e também as sementes necessárias à plantação do mez de Janeiro próximo.
Nestes termos,
Pa. Va. Exa. se digne de o deferir com a justiça que costuma de que
E.R.Ma.
Curitiba, 11 de Dezembro de 1873.
(ass) Robert, Jacques
Deferido com a ordem desta data, Palácio da Presidência do Paraná, em 5 de Maio de 1874.
Frederico Abranches
Informar a contadoria (ilegível)."

4.  Índice do livro-caixa da colônia Argelina, Jacques Robert é o imigrante n° 48.


5. Folha deve/haver de Jacques Robert no livro-caixa da colônia Argelina e primeira referência encontrada do imigrante no Brasil.


"DEVE,
9 Setembro 1873, gratificação para si e sua mulher, 40$000
7 Maio 1874, idem à seus dois filhos, 40$000
7 Maio 1874, importância à sementes e lavoura, 86$600
8 Junho 1874, importância da casa n° 16, 300$000
8 Junho 1874, lotes de campo e floresta, n° 16 e n° 6, 137$000
Debita-se-lhe pelos favores concedidos a Agier Michel na qualidade de seu substituto, 885$544
Adiantamento na Suissa, 540 fr. sendo 330 fr. pela passagem e 210 fr. como (ilegível), 216$000
Dito em Marseille 612,50 fr., 245$000

HAVER"
em branco

Todos os documentos acima fazem parte do acervo do Arquivo Público do Paraná.

6. Abaixo-assinado agradecendo a concessão de terras, datado de 25 de outubro de 1875, disponível on-line aqui. Publicado no jornal Dezenove de Dezembro, edição 1652, de 27 de outubro de 1875.



terça-feira, 12 de novembro de 2013

A FAMILIA ROBERT CHEGA À COLÔNIA ARGELINA, CURITIBA


"Frederico José Cardais d'Araújo Abranches. Faço saber que tendo Jacques Robert requerido compra da casa n° 16 do lote de campo n° 16 e a da floresta n° 6, situados no núcleo colonial do Bacachery, mandei-lhe passar pela Secretaria desta Presidência o presente título provisório que será substituído pelo definitivo logo que o comprador se mostrar quite com a Fazenda Nacional. Vae este título por mim assignado e sellado com sello da mesma Secretaria. Palácio da Presidência do Paraná, em 22 de junho de 1874, (ass) Frederico José d'Araújo Abranches" (livro 62, acervo do Arquivo Público do Paraná).

Pelo título provisório acima, conseguimos saber que Jacques Robert adquiriu o lote n° 16 da Colônia Argelina. Não consegui nada a respeito do que seria o lote de floresta n° 6.


"Jacques Roberto. O Sr. Francisco Xavier da Silva Procurador do Estado, Faz saber que tendo Jacques Robert comprado o lote n° 16 da colônia Argelina (ilegível) a área de 80.000 m² (ilegível) 8,5 m (ilegível) com a Fazenda do Estado para a qual passaram (ilegível) direito de propriedade no dito terreno (ilegível) com a lei (ilegível), (ass) Fco Xavier" (sem local, sem data, acervo do ITCG)

A partir desse titulo provisório, conseguimos saber que o lote de Jacques Robert era de 80.000 m². Abaixo a localização do lote dentro da colônia e atualmente, dentro do aeroporto do Bacacheri.




O mapa da esquerda é da colônia Argelina e destaca o lote n° 16, de Jacques Robert, faz parte do acervo do ITCG. O mapa da direita é do IPPUC e está demarcada a região aproximada do lote de Jacques, localizado no terreno do aeroporto do Bacacheri. 

A imagem abaixo é do acesso principal ao lote de Jacques, atualmente dentro do aeroporto, marcado com o pino amarelo nos mapas acima.


Não sei até quando a família Robert permaneceu na colônia Argelina. Desde 1885 o lote 16 estaria com o italiano Pedro Zechin e contaria com uma casa de madeira, roça de milho, centeio e vinhas e mais 3 cabeças de gado. Em 1885 terminou a construção do trecho Curitiba-Paranaguá da estrada de ferro e a família pode ter se mudado para outro lugar, provavelmente no mesmo bairro. Arquivo Público do Paraná, livro códice 832, Estatísticas das colônias da Província do Paraná, organizada em dezembro de 1887.














terça-feira, 5 de novembro de 2013

A COLÔNIA ARGELINA

A instalação de colônias no Paraná deu-se a partir da criação da província do Paraná em 1853, anteriormente a região pertencia à província de São Paulo. As colônias foram formadas desde 1860 até o início do séc. XX. 

Em Curitiba a preferência foi por pequenas colônias, que deram origem a alguns bairros da cidade: Pilarzinho (1870), Abranches (1873), Dantas, atual bairro da Água Verde (1878), Santa Felicidade (1878), Argelina, atual bairro do Bacacheri.


"Os franceses se encheram
Da Argélia e vieram pra cá
Se esquecer de pensar em Parri
Era só gente fina a Colônia Argelina
Anchantê sivuplé uí madame merci"
Bacacheri, de Paulo Vitola


Entre os núcleos coloniais da região de Curitiba, estava a colônia Argelina, instalada em Curitiba em terras adquiridas pelo governo à margem da estrada da Graciosa (atual av. Erasto Gaertner) onde hoje é o bairro Bacacheri.


Mapa de Curitiba do IPPUC, com a região da colônia Argelina,
atual aeroporto do Bacaheri e arredores, em destaque

A colônia foi criada em 1868 e recebeu esse nome por acolher, num primeiro momento, ex-colonos franceses da Argélia.


do jornal Dezenove de Dezembro, ed. 1007, de 3 de julho de 1869, disponível on-line na Hemeroteca Digital Nacional, aqui.

Imigrantes chegados em Paranaguá no navio Polymerie (1869), inscrição no consulado, no site genfrancesa.com, clique aqui.

Essa colônia possuia 36 lotes rurais, além de alguns lotes urbanos que acompanhavam a estrada da Graciosa (atualmente av. Erasto Gaertner). 


Mapa de Milena Kanashiro - daqui 


Os primeiros colonos chegaram em 1869, mas foram aos poucos abandonando seus lotes. Três anos depois da chegada, metade deles já tinha saído da colônia.  Em 15 de fevereiro de 1872, o presidente da província do Paraná, descreve a situação da colônia Argelina, para ler o relatório na integra, clique aqui.























Com parte dos lotes desocupados, em fins de 1873 nova leva de colonos chega ao Paraná e à colônia Argelina.  Entre eles Jacques Robert que re-compra o lote do colono Michel Agier. Foram vários os substitutos dos primeiros colonos, uma relação mais detalhada pode ser obtida no Livro-caixa da colônia, disponível no Arquivo Público do Paraná.

Livro-caixa da colônia Argelina,
acervo do Arquivo Público do Paraná

Quatro anos depois, em 15 de fevereiro de 1876, o presidente da província do Paraná descreve da seguinte forma a colônia Argelina. Para ler o relatório na integra, clique aqui.



Realmente Jacques Robert era estranho a lavoura e em 1880 já estaria trabalhando na construção da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá, mas não sei se abandonou a colônia, já que seu registro de óbito foi feito no cartório do Bacacheri, veja aqui.

Não encontrei nenhuma referência de Jacques e família na Argélia, há necessidade de pesquisar melhor.

Uma das suas filhas, Marie Catharine, não veio ao Brasil e não encontrei seu óbito em Saint-Etiènne. Ele pode ter ocorrido em outro lugar na França, ou a bordo do navio na travessia atlântica, ou então na Argélia. Encontrar esse documento poderia resolver esse mistério ... a família Robert esteve ou não na Argélia antes de vir ao Brasil ?? Pessoalmente penso que não.

Ajudaria muito encontrar a documentação do navio em que fizeram a travessia atlântica, as listas de embarque ou desembarque.

Para saber alguma coisa da Argélia enquanto colônia francesa, clique aquiaqui ou aqui.

Para pesquisar registros civis (nascimento, casamento, óbito) de franceses na Argélia colonial, clique aqui.


Mapas de parte da colônia Argelina, o da esquerda faz parte do acervo do ITCG, o da direita, atual, do IPPUC.

E esse mapas, onde estarão ?


Jornal Gazeta Paranaense, ed. 3, de 5 de janeiro de 1886, aqui.

Dos tempos da colônia Argelina  resta ainda, no bairro do Bacacheri, a Casa do Burro Brabo. Onde o Imperador fez xixi em 22 de maio de 1880 !! Acredita-se que construída por volta de 1860, situada na av. Erasto Gaertner 2035. Abandonada, tombada, restaurada, novamente abandonada. Não é permitida a visitação.

Para saber mais, clique aquiaqui e aqui.

daqui