quinta-feira, 17 de maio de 2012

A VIAGEM - parte 2



Pelo Relatório apresentado ao Exmo.Sr.Vice-Presidente da Província do Rio de Janeiro, o Commendador João Pereira Darrigue Faro pelo Presidente o Conselheiro Luiz Pedreira do Coutto Ferraz por ocasião de passar-lhe a administração da mesma Província em 03 de maio de 1852 (Niterói, Typographia de Amaral e Irmão, 1852), podemos saber a destinação dos imigrantes de cada navio, veja aqui.


As viagens eram bastante precárias, feitas em navios a velas, com três mastros. Christian Bass, passageiro do Lorenz, conta “que durante a travessia do canal (da Mancha) tivemos algumas noites de tempestade fazendo com que muitas caixas da entrecoberta (do navio) virassem. Tivemos ao todo 21 dias de calmaria, perto do Equador permanecemos parados 7 dias seguidos, e nos momentos mais quentes (a temperatura) era de 30 a 40 graus.” Pela possibilidade de calmarias os alimentos e a água eram racionados. No dia 14 de abril quase foram “afundados por um outro navio, pois o faroleiro adormeceu.”


Fonte: de.wikipedia.org

Pelo Relatório Provincial de 1852, já citado, sabe-se que o navio Lorenz chegou em águas brasileiras dia 17 de maio e por carta do passageiro Heinrich Moeller que o desembarque ocorreu no dia seguinte, dia 18 de maio de 1852.


Durante a travessia no navio Lorenz faleceram 4 crianças, sendo uma menor de um ano, duas menores de dois e uma com oito anos. Nasceram três crianças.
Na viagem de vinda ocorreram os seguintes infortúnios: no dia 05 de abril morreu uma criança pequena do Friedrich Michel de Rudostadt, no dia 07 uma do Appelfeller, no dia 15 um menino de Rudostadt escaldou a cabeça.”




Em 1915 foi publicada, no Kalender für die Deutschen in Brasilien de São Leopoldo, uma carta de Johann Kühl que viajou no navio Princess Louise com destino à fazenda Independência. Seu navio chegou no Rio de Janeiro dia 06 de maio de 1852, cerca de duas semanas antes do navio Lorenz. Na carta ele conta, entre outras coisas as condições da ida do litoral à serra fluminense:
Após uma viagem de oito semanas aportamos ao meio dia no porto do Rio de Janeiro. O navio baixou âncoras e parou. A partir do navio foram lançadas cordas e então, finalmente, pisamos novamente em terra, em um novo mundo, nosso novo lar. Dalí nos dirigimos rio acima em um pequeno navio, - o nome do rio eu esqueci – ao acampamento “Estreito” (talvez Porto “Estrela” ??). Lá permanecemos por um dia. Na manhã seguinte continuamos a viagem com uma tropa de mulas, que carregavam cestos pendurados nos dois lados. Nos cestos eram transportados todos os nossos pertences, e nos quais as crianças também eram transportadas. O caminho estava muito úmido e lamacento porque havia chovido por um longo tempo. Às vezes passávamos por grotas e logo tivemos que tirar nossos sapatos, enrolar as pernas das calças, e também tirar as grossas saias porque o suor escorria pelas roupas e pelo corpo; e assim nos arrastamos pela picada no banhado. Depois de um dia de marcha foi feita uma parada. A alimentação consistia de arroz, feijão e pão, sendo que dois bois foram abatidos por negros. Não era apetitoso, mas o que fazer? A fome fazia com que entrasse.”
Sobre o Porto Estrela, clique aqui e aqui.

Abaixo, uma reportagem de 1988 sobre a Estrada Velha da Serra da Estrela, atual RJ-107.




Os imigrantes que se dirigiam a Fazenda Santa Justa chegaram ao destino dia 27 de maio de 1852, levaram cerca de 9 dias para subir a serra fluminense.  A contaminação do Porto Estrela pela febre amarela fez com que fossem diretamente para a Fazenda, desembarcaram e em seguida viajaram em mulas, subindo a serra até a Fazenda Santa Justa. A subida da serra era muito acidentada, perigosa e cara, apesar de ser feita entre sete e dez dias, custava quase a mesma coisa que a travessia transatlantica.

Sempre me perguntei como seria a baia de Guanabara e a subida da serra (em direção à Petrópolis e Rio das Flores) em 1852. Abaixo uma gravura do Rio de Janeiro em 1857, cinco anos depois da chegada de Raimund Jacobi, Wilhelm Behringer, Friedrich Uhlmann ....

Vista da entrada do porto do Rio de Janeiro
Archivo Pittoresco, Semanário Illustrado, junho 1857,  daqui.