O
termo “colônia de parceria” se refere mais a um sistema de
trabalho, ao sistema de parceria. Os imigrantes viviam em pequenas
vilas, dentro das fazendas e trabalhavam partilhando as despesas e os
lucros com os proprietários.
Paralelamente
a implantação das “colonias de parceria”, alguns núcleos
coloniais foram sendo criados no Brasil, principalmente no sul do
país. Eram núcleos criados pela iniciativa privada, pelo governo
imperial e pelos governos provinciais (estaduais). De 1850 até 1889
foram criados 250 núcleos coloniais no Brasil, 197 particulares, 50
imperiais e 3 provinciais. Um desses núcleos colonias foi a Colônia
Santa Isabel criada em 1845, outro foi a Colônia Blumenau de 1850,
outro a Dona Francisca.
em amarelo - colônia Dona Francisca (atual Joinville)
verde - colônia São Bento do Sul (atual São Bento do Sul)
laranja - colônia dr. Blumenau (atual Blumenau, entre outros)
azul - colônia Santa Isabel (atual Águas Mornas)
O objetivo da fundação desses núcleos coloniais seria :
do livro de Toni Jochem, "Pouso dos Imigrantes" |
em amarelo - colônia Dona Francisca (atual Joinville)
verde - colônia São Bento do Sul (atual São Bento do Sul)
laranja - colônia dr. Blumenau (atual Blumenau, entre outros)
azul - colônia Santa Isabel (atual Águas Mornas)
O objetivo da fundação desses núcleos coloniais seria :
- a criação de uma classe média, pois no Brasil viviam basicamente os escravos e a elite portuguesa.
- a valorização do trabalho braçal, até então considerado “coisa de escravo”
- a criação de minifundios voltados para a policultura, para abastecimento das cidades e do exército. Até meados do séc. XIX, a agricultura no Brasil era basicamente de grandes propriedades produzindo apenas cana-de-açúcar ou café (monocultura), faltava o aipim, a salada, os grãos, a criação, ...
- o preenchimento dos grandes vazios demográficos, o país era povoado principalmente no sudeste, nordeste e na região litorânea.
Nessas
colônias, a demarcação inicial dos lotes colonias na mata virgem
era feita por engenheiros e agrimensores, acompanhados de mateiros
conhecedores do local. Os primeiros lotes coloniais no Brasil eram de
70 a 75 hectares, depois passaram a 50ha e mais tarde a 25ha.
Sérgio
Buarque de Holanda explica que “cada colônia era formada por
picadas e linhas e de uma sede que era o local destinado para a
futura vila ou cidade, dividido em ruas, quadras e pequenos lotes. Os
lotes dos colonos agricultores ficavam situados nas chamadas picadas,
partia-se de uma linha previamente fixada, abrindo-se verticalmente
a ela entre as picadas ou linhas e perpendicularmente a elas havia
outras vias de comunicação, também margeadas de lotes, chamadas
travessões. Os lotes podiam atravessar as picadas, as futuras
estradas, ou situar-se nos dois lados . Em geral, se não houvesse
falta de água os colonos erigiam suas casas com as dependências
econômicas perto da futura estrada. Esse sistema de povoamento
diferia essencialmente daquele que os imigrantes conheciam na
Europa, onde em geral, viviam em aldeias e somente em casos
excepcionais em quintas individuais.”
Mapa da colônia Blumenau - 1864
Acervo do Arquivo de Blumenau |
Compare a fotografia do Google Earth da cidade de Böhlen já postada e o mapa da colônia de Blumenau acima. Na primeira, uma típica aldeia européia, de forma ovalada, onde todos os moradores são próximos. No segundo caso, a colônia Blumenau, com grandes lotes contíguos, vizinhos afastados e região central (sede) mais ainda.
Ao
contrário das “colônias de parceria” onde o proprietário das
terras era o fazendeiro contratante, nos núcleos coloniais o colono
era o proprietário das terras. Até 1854 esses lotes eram doados aos
colonos, depois passaram a ser vendidos ou pelo governo Imperial,
caso se tratasse de uma colônia imperial como Santa Isabel, ou por
particulares, como por exemplo os lotes da colônia do Dr. Hermann
Blumenau. Raimund Jacobi, Wilhelm Behringer e Hermann Rühe chegaram
às colonias após 1854, em 1860 os dois primeiros e 1864 o último,
tendo portanto que comprar seus lotes.
No
caso da colônia Blumenau, por exemplo, “a medição dos lotes
coloniais teria lugar nas picadas e com o número de braças
preferido pelos colonos, o preço seria sempre indicado nas plantas
das picadas e pagável dentro do primeiro ano, contando da entrega
das terras, recebendo o colono o abatimento de 12 % se o pagamento
fosse à vista ... haveria um acréscimo de 6% até dois anos, de 12
% até 3 anos, de 18 % até 4 anos.... se os colonos não dessem
começo à cultura do terreno dentro de seis meses da sua aquisição
e nem tivessem levantado habitação, mesmo provisória nesse prazo,
perderiam o direito às terras, restituindo-se-lhes o que houvessem
pago.” (SILVA, pg.75)
A DELIMITAÇÃO DOS LOTES
Era feita por colonos acompanhados de agrimensores que se embrenhavam nas matas, abrindo picadas e marcando os lotes que posteriormente seriam vendidos.
Na primeira foto abaixo vê-se um acampamento para medir e marcar lotes. São primos de Marie Tekla Jacobi (depois Rüher) na região do Rio Itajaí-açú (Ibirama).
Observe o tripé com equipamento agrimensor (teodolito) entre o sétimo e o oitavo homem da esquerda para a direita. Todos eles empunham foices e machados.
As duas fotos são dos últimos anos do séc. XIX (1897-1900) aproximadamente. Entre eles Alfred Wilhelm Sellin (diretor da Sociedade Colonizadora Hanseática, colônia Hansa-Harmonia, atual município de Ibirama-SC), August Behringer (4° da esquerda para direita com as duas mãos sobre o machado), alguns Uhlmann e Krüger.
Na foto abaixo, o mesmo grupo em duas canoas, no Rio Itajaí-açú, todos armados com espingardas.
Informações e fotos gentilmente cedidas por Helmtraut Bäringer.
Assim, os colonos compravam lotes de mata virgem, geralmente acompanhando os rios locais, apenas demarcados pelas picadas, que deveriam ser desmatados e extensamente trabalhados para se tornarem produtivos. Imagine a dificuldade !!
A DELIMITAÇÃO DOS LOTES
Era feita por colonos acompanhados de agrimensores que se embrenhavam nas matas, abrindo picadas e marcando os lotes que posteriormente seriam vendidos.
Na primeira foto abaixo vê-se um acampamento para medir e marcar lotes. São primos de Marie Tekla Jacobi (depois Rüher) na região do Rio Itajaí-açú (Ibirama).
Observe o tripé com equipamento agrimensor (teodolito) entre o sétimo e o oitavo homem da esquerda para a direita. Todos eles empunham foices e machados.
As duas fotos são dos últimos anos do séc. XIX (1897-1900) aproximadamente. Entre eles Alfred Wilhelm Sellin (diretor da Sociedade Colonizadora Hanseática, colônia Hansa-Harmonia, atual município de Ibirama-SC), August Behringer (4° da esquerda para direita com as duas mãos sobre o machado), alguns Uhlmann e Krüger.
Na foto abaixo, o mesmo grupo em duas canoas, no Rio Itajaí-açú, todos armados com espingardas.
Informações e fotos gentilmente cedidas por Helmtraut Bäringer.
Assim, os colonos compravam lotes de mata virgem, geralmente acompanhando os rios locais, apenas demarcados pelas picadas, que deveriam ser desmatados e extensamente trabalhados para se tornarem produtivos. Imagine a dificuldade !!
Administrativamente cada colônia possuia um diretor, que era o principal responsável por ela, ele poderia ser nomeado pelo governo imperial ou provincial a quem tinha que enviar relatórios periódicos, era o caso do Sr. Cocoroca, diretor da colônia Santa Isabel. O diretor poderia ser também o próprio idealizador e empreendedor da colônia, no caso da colônia de Blumenau, o próprio Dr. Hermann Blumenau, que também precisava enviar relatórios à Corte. Subordinados ao Diretor da colônia, estavam os Inspetores de Quarteirão (comparável a um delegado ou chefe de polícia da atualidade).
Essas colônias deram origem a vários municípios de Santa Catarina. A colônia Dr. Blumenau deu origem, entre outros, aos municípios de Blumenau, Indaial, Massaranduba, Gaspar, ....
E COMO ESSA "ALEMÃOZADA" RESOLVEU VIR PARA O BRASIL ??
Os comedores de batatas, acervo do Van Gogh Museum, Amsterdam, daqui |
Várias empresas promoviam a imigração para o Brasil. No nosso caso podemos citar a "Vergueiro e Cia", do senador Vergueiro, a "Blumenau e Hackradt" do Dr. Blumenau, a "Sociedade Colonizadora de 1849 em Hamburgo" da colônia Dona Francisca (Joinville), a Sociedade Colonizadora Hanseática.
Além de comprar as terras e lotear (no caso das três últimas) as companhias de imigração também eram responsáveis por trazer os imigrantes. Eles tinham agentes de imigração, europeus ou não, que divulgavam as colônias na Europa, através de jornais, folhetos, palestras, encontros nas igrejas, etc ..
Sobre um dos jornais de propaganda clique aqui, ou procure a atualização "Jacobi- a viagem de Raimund" de novembro de 2012.
Em períodos de vacas magras, onde a comunidade era responsável pelo sustento de seus integrantes mais pobres, estimular a imigração e livrar-se desse encargo era interessante !
livreto de divulgação da colônia Blumenau - Dr. Blumenau - 1851 Acervo Instituto Martius-Staden |
A este respeito, uma pesquisa muito interessante é a de Débora B. Alves, disponível no link aqui.