Em 1903, o autor Jorge Maravalhas diz sobre as primeiras oficinas da Estrada de Ferro, que existiam desde 1885 :
"As oficinas da Estrada de Ferro do Paraná acham-se instaladas em Curitiba, e servem a um tempo, às duas linhas - Paranaguá - Curitiba e Prolongamentos e Ramais.
Constam de 3 galpões de madeiras contíguos, em que funcionam as oficinas de reparações de máquinas, de carpintaria e marcenaria, e um, em separado, de forjas para fundição, onde funciona a oficina de ferraria.
São bem montadas e dispõem dos mais modernos maquinismos de modo que nenhuma precisão tem a E. de F. do Paraná de outras oficinas para a execução de seus trabalhos de reparação, quer fixo, quer rodante, confeccionando mesmo aí, muitas peças de maquinismo e ferramentas , que são em geral importadas do estrangeiro pelo comércio. O motor empregado nas oficinas é a vapor de força de 40 cavalos".
A foto acima deve ter sido tirada no ano de 1915, aproximadamente, na entrada de uma das oficinas da estrada de ferro em Curitiba, veja o vagão dentro do barracão, ao fundo. Nela estão:
1. Antônio Robert e,
2. Fernandes Robert, seu filho.
Nesta foto abaixo, também de 1915, a estação ferroviária de Curitiba, do lado esquerdo a praça Eufrásio Correia e a avenida Sete de Setembro, do lado direito as oficinas. Do livro de Eduardo Emílio Fenianos, Rebouças: o bairro da harmonia.
As oficinas da estação ferroviária possuiam galpões para: fundição e ferraria, montagem e reparação de locomotivas, reparação de carros e vagões, pintura, depósito de madeira e serraria, um galpão aberto também para reparos, além de casa de força e compressores.
Segundo o autor Rubens Habitzreuter: "O grau de sofisticação
das máquinas instaladas nas oficinas era motivo de extrema admiração dos
visitantes. Máquinas de aplainar ferro, limadoras, de corte e furo, tornos grandes para rodas de locomotivas e vagões,
forjas, serra-fita e forno".
Abaixo, foto das oficinas em 1905, da Coleção da prof. Júlia Wanderley,
daqui.
De 3 barracões as oficinas passaram a contar com 5, veja a maquete abaixo, do Museu Ferroviário. Desde 1997 resta apenas parte do prédio principal da estação ferroviária, que pertence ao atual Shopping Estação em Curitiba, as demais dependências da antiga estação foram demolidas.
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Maquete da década de 1930, autor eng° W. Niess |
Em 1917, ocorreu a
primeira grande greve no Brasil, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, ....
"A carestia e o alto custo de vida foram fatores decisivos na eclosão da greve ... A 1ª guerra mundial, a que o Brasil ainda não tinha entrado, também deixava reflexos nos preços dos alimentos, pela política adotada pelo governo de voltar-se mais ao mercado externo." (Fonseca, pg. 66)
Ou seja, o fornecimento de alimentos para a Europa provocou essa carestia, ouça
aqui e leia sobre o tio de Fernandes na IGG
aqui.
Jornal A República, dia 20 de julho de 1917, ed. 169,
daqui.
"Hontem mesmo noticiamos terem adherido ao movimento paredista todos os operários das Officinas da Estrada de Ferro.
Hoje um dos nossos companheiros conversando com um dos funccionários mais graduados da Estrada foi scientificado que a Directoria do mesmo consentirá com o maior agrado em conceder licença a todos os seus operários que quizerem tomar parte nos comícios actuaes e que todos aquelles que quizerem voltar ao serviço poderão fazel-o quando bem entenderem.
- Quando o trem da tabella, da linha Norte-Paraná hontem às proximidades da fábrica Mimosa, no kilometro 2, avultado número de grevistas fez parar o comboio.
O chefe do trem porém com modos suasorios, conseguiu que os grevistas consentissem no prosseguimento da viagem, chegando o comboio a cidade sem mais novidades.
Hoje pela manhã corriam boatos insistentes de que os grevistas tinham impedido a sahida de trens desta Capital.
Scientificando do caso na própria Estação, soubemos não ter o mínimo fundamento, pois todos os comboios sairam nas horas certas do horário."
Os empregados ferroviários, como Antônio e Fernandes Robert, estavam lá !!
Fotografia de passeata na atual rua des. Westphalen, em Curitiba, em 1917 - da coleção Júlia Vanderley, da
Biblioteca Nacional.
Para mais sobre as causas da greve e as exigências dos operários em Curitiba, clique
aqui.
Para saber sobre a greve no Brasil, clique
aqui e
aqui.
Foi nas oficinas da ferrovia que meu avô Fernandes Robert, aprendeu o ofício de torneiro mecânico. Nelas trabalhou até 1920, quando foi para o serviço militar.
Antônio Robert faleceu em 1923 e provavelmente trabalhou nas oficinas até o fim da vida.
Em 1949 elas foram transferidas para o bairro Capão da Imbúia, Vila Oficinas em Curitiba.