terça-feira, 20 de agosto de 2013

UN TOUR À SAINT-ETIÈNNE


Conhecer Saint-Etiènne. Um destino interessante para quem descende de Jacques e Marie Louise. A grande cidade que atraiu migrantes franceses de muitas partes, num processo bem conhecido entre nós. Vamos visitar o lugar ??


Vista da cidade, em primeiro plano a torre da igreja Notre Dame, seguida de casas e imóveis da cidade velha, e mais ao fundo o local do Poço Couriot (atual Museu de Minas) com os dois grandes montes de resíduos ("crassiers"), daqui.

Jacques e Marie Louise casaram em Saint-Etiènne, os primeiros filhos aí nasceram, Leonard, Catherine e Marie Caroline, Joseph. 

Seu passeio pode incluir, além dos locais turísticos tradicionais, os endereços da família Robert na cidade:  o "grand coin " e a rua de la Parreile, lugares em que viveram e que já foram mencionados  aqui.

A rue de la Pareille atualmente pertence ao bairro Jacquard. Ela foi mencionada em documentos pela primeira vez nos anos  de 1819. Era região periférica, foi anexada à cidade Saint-Etiènne em 1855, até então Jacquard era conhecida como Montaud. 

O história do bairro está intimamente relacionada às minas de carvão e às fábricas de fitas (rubanerie), atividades de Jacques e Marie Louise Robert, nele estão ainda existem vestígios do:
Visite  uma  mina de carvão, o  Puits Couriot (Poço Couriot), atualmente o Musée de la Mine de Saint-Etiènne:

                                           

Marie Louise, a mulher de Jacques Robert, antes de imigrar para o Brasil, era plieuse de ruban, plissava fitas. Muitos fabricantes de fitas se instalaram no bairro durante o séc. XIX. Os prédios são facilmente reconhecidos pelas altas janelas e pela decoração exterior.

Marie Louise não alcançou essas duas preciosidades abaixo, que dizem respeito à rubanerie, mas vale a visita:

O primeiro é o prédio da "Conditions de Soies" de fachada art-noveau decorada com motivos de fitas e amoras. O prédio é de 1910 e foi construído por Leon e Marcel Lamaiziere.

  
Outro prédio de uma antiga fábrica de fitas,  atualmente pertence à École nationale supérieure d"architeture de Saint-Etiènne.


Por ocasião da Primeira Guerra Mundial, Joseph Robert,  filho de Jacques,  nascido na França e que chegou ao Brasil com apenas 2 anos de idade, foi convocado. Mesmo casado e com filhos, com mais de 40 anos, ele retornou para servir a Armée francesa. Assim, aproveite para visitar os endereços de Joseph Robert na cidade.

(Eu sou descendente de outro filho de Jacques, Antônio Robert, nascido no Brasil em 1875, a família de Joseph Robert se instalou na cidade de Cerro Azul-PR.)

Comece pelo local do Quartel em que se alistou. O prédio foi demolido em 1970 e em seu lugar contruída a Faculté de Lettres, na rue du 11 de novembre.  Para saber mais do Quartel, clique aqui.

Enquanto viveu em Saint-Etiènne, Joseph Robert morou na  rue J J Rosseau n° 12.

Rue J.J.Rosseau n° 12

Joseph Robert, durante sua estada na França, enviou vários cartões postais para sua família. Entre eles, alguns com fotos de Saint-Etiènne, como a Gare du Clapier, a Pont du Pertuiset (sobre o rio Loire) e a Gare Chateaucreux.

Gare du Clapier está ligada à atividade mineira da cidade. Foi construída em 1857, inicialmente em madeira e reconstruída em concreto nos anos de 1920. Atualmente a Gare du Claplier é um restaurante.


Gare du Claplier em 1906

Gare du Clapier em cartão postal enviado durante a IGG
de Joseph Robert para meu avô Fernandes Robert

Outro local conhecido da família Robert, está neste outro lindo cartão que Joseph mandou para seu irmão Antônio, meu bisavô. É uma ponte suspensa do séc. XIX sobre o rio Loire, a Pont du Pertuiset. Essa ponte foi substituida por outra mais moderna. Para conhecer essa nova ponte, clique aqui.


Um terceiro cartão de Joseph é da Estação Chateaucreux, á esquerda. A gare como está atualmente, à direita. Para saber mais, clique aqui.


Os cartões enviados por Joseph Robert a Antônio e Fernandes Robert serão postados em breve.

Se quiser  imagens (cartões postais) de outros locais da Saint-Etiènne de Jacques e Maria Louise que não seu bairro,  clique aqui.

A moderna Saint-Etiènne está aqui e aqui.

Para saber mais sobre o bairro Jacquard, clique aqui.

A maior parte das fotos e cartões postais desta postagem é daqui.

Um pouco da história de Saint-Etiènne, clique aqui.


terça-feira, 13 de agosto de 2013

NAS MINAS DE CARVÃO - parte 2

Um grave problema para os mineiros é a silicose, doença pulmonar causada pela inalação da poeira da silica (particulas cristalinas do dióxido de silício). A exposição à sílica e ao silicato acontece em quase todos os trabalhos de mineração, de obras e túneis. A doença se manifesta de oito a dez anos após a exposição ao mineral, inicialmente causando cansaço, dor toráxica, tosse e expectoração. É uma doença crônica, progressiva, irreversível e ainda hoje incurável.

A insalubridade, o excesso de horas de trabalho (12 horas ou mais ao dia), o salário insignificante que não atendia às necessidades mínimas dos trabalhadores (recebiam quinzenalmente de acordo com a produção), sem leis para a regulamentação do trabalho, nem aposentadoria, aumentou o movimento dos trabalhadores mineiros.

A criação de sociedades de ajuda mútua e sindicatos foi resultado de muita luta e sacrifícios. As reivindicações dos movimentos operários eram brutalmente reprimidas, várias vezes com sangue. As primeiras greves foram particularmente agressivas. Em abril de 1834 a greve dos passementier e dos mineiros terminou com 6 mortes, a greve de 1846 com outras tantas sem contar presos e feridos.

Uma das maiores greves do Loire foi a de 10 de junho de 1869 em Firminy que reinvidicava principalmente jornada de 8 horas de trabalho. No dia 16, na aldeia du Brûlé (La Ricamarie) o exército atirou e fez 13 mortos, entre eles uma mulher e uma criança e feriu cerca de 50 pessoas. Estima-se que 18.000 mineiros da bacia do Loire estavam em greve. Em 26 de junho os mineiros conseguiram sucesso significativo: jornada de 8 horas para os trabalhadores “du found” (sub-solo), centralização dos fundos de ajuda e a participação dos mineiros na gestão desses fundos. Sobre a Fusillade du Brûlé, leia aqui e aqui.

Acervo dos Archives departamentales de la Loire
Acima fotografia sobre uma placa de vidro tirada durante o incidente de Brûlé, dia 16 de junho de 1869. (19,5 cm. X 14 cm.)

Na cronologia abaixo estão as leis e fatos mais importantes para o movimento trabalhista francês:

1791 – lei que criminaliza as greves
1841 – proibição do trabalho infantil de menores de 8 anos, limitação de 8 horas por dia o trabalho de menores de 8 a 12 anos e de 10 horas por dia para os de 12 a 16 anos
1852 – lei de salário mínimo
1864 – lei que termina com o delito da greve
1864 – criação da Primeira Internacional (Associação Internacional de Trabalhadores)
1869 a 1871 – greves em numerosas cidades francesas
1870 a 1871 – guerra franco-prussiana
1871 – comuna de Paris
1873 a 1896 - “grande depression”
1873 - imigração de Jacques Robert e família para o Brasil
1874 – criação da inspeção do trabalho
1874 – proibição do trabalho ao menor de 13 anos

Em 1870 o Imperador francês Napoleão III declarou guerra ao Reino da Prússia, a Guerra Franco-Prussiana. Terminada a guerra e derrotada a França, houve o pagamento de pesada indenização, o que causou um círculo conhecido: falta de crédito, falta de consumo, queda de produção, desemprego, queda de salários …. Essa crise durou até 1896 e atingiu vários países da Europa e EUA.

Esse pode ter sido um outro  importante motivo da imigração de Jacques Robert em 1873 para o Brasil: a recessão e a falta de melhores expectativas. Ou seja, aliada à questão da insalubridade, da saúde e da periculosidade, pelas explosões e desmoronamentos, estava a questão econômica. 

O trabalho nas minas e suas dificuldades, as greves, a vida política e social dos mineiros do séc. XIX está relatada magistralmente no livro de Émile Zola, Germinal. Zola nasceu em 1840, portanto é contemporâneo de Jacques Robert, este nascido em 1842. Germinal foi lançado na França em 1885 e para escrevê-lo Zola trabalhou alguns meses em minas de carvão do norte do país (Pas-de-calais) onde história do livro também se passa entre os anos de 1866 e 1867.

Para ler sobre a relação história e literatura, minas de carvão e Germinal, clique aqui.

Bibliografia e imagens:

http://www.emse.fr/AVSE/mine.htm
http://mineralogica.pagesperso-orange.fr/
http://le-journal-de-charbon.blogspot.com.br/
Baran, Denys – Les sources de l'histoire minière aux Archives départamentales de la Loire, in Documents pour l'histoire des techniques, n° 16, 2° semestre 2008.
gravuras lindíssimas: 
http://www.lectura.fr/expositions/promenade/galerie-chapitre8-image1.html
fotos das minas de Pas-de-Calais (norte da França):
http://www.youtube.com/watch?v=g1xD6_NDmdI&feature=related

terça-feira, 6 de agosto de 2013

NAS MINAS DE CARVÃO - parte 1

Jacques Robert, o pai dele Antoine Robert, o pai do pai dele André Robert .... enfim, a família Robert desde muito trabalhou em minas de carvão na França.

O carvão é utilizado na França desde o séc. XIV. A bacia produtora de carvão de Saint-Etiènne abrange uma área de 22.000 ha. entre o Rive-de-Gier a leste e Firminy a oeste. A exploração começou a leste por Rive-de-Gier em 1750 se estendendo a oeste no séc. XIX. Em 1820 eram 40 empresas mineradoras, algumas se fundiram e formaram a Compagnie des mines de la Loire em 1837, em 1854 Napoleão III dividiu essa gigante em 4 empresas, em 1913 haviam 17 empresas, em 1935 eram 11, em 1946 todas foram nacionalizadas, em 01 de julho de 1983 o último poço parou de funcionar, o poço Pigeot em La Ricamarie.

Diferente das outras regiões da França e talvez do mundo, a extração de carvão em Saint-Etiènne era urbana, os poços estavam localizados dentro da cidade. Atualmente é difícil localizar os 192 poços existentes, somente pelos nomes das ruas e regiões. Apenas um poço continua visível, é o Puit Couriot onde está instalado o Museé de Mines de Saint-Étienne, com seus grandes montes de entulhos (“crassiers”) ao lado.

Para conhecer todos os poços de Saint-Etiènne, clique aqui.
Para visualizar um mapa com todas as minas de Saint-Etiènne, clique aqui.

Cartão postal enviado por Joseph Robert a seu irmão Antônio - 1916

Olhava e começava a distinguir cada parte da mina: o galpão onde o carvão é peneirado, a torre do sino do poço, a grande casa da máquina da extração, a torre da bomba d'água. Para ele, essa mina parecia um animal feroz pronto para devorar o mundo.” (Emile Zola, Germinal)


Fonte: coleção Thesouro da Juventude, vol.3, s/data


As minas tinham o trabalho de superfície e o trabalho no fundo. Na superfície era mais leve e para “privilegiados”, incluía entre outras coisas o trabalho com carregamento, seleção e armazenamento do carvão, o trabalho com equipamentos e o trabalho com as lampadas na” lampesterie”.



Cada mineiro possuia sua própria lampada marcada com suas iniciais e que deveria ser deixada na sala das lampadas para limpeza e manutenção. Essas lampadas eram de fundamental importância para a vida dos mineiros.

Lâmpada modelo de Saint-Etiènne
meados do séc. XIX

Como os mineiros viviam em contato direto com o gás grisu, nem sentiam mais o peso das pálpebras. Às vezes quando a luz do lampião enfraquecia e tornava-se azulada, um mineiro colava o ouvido contra o veio e escutava o ruído do gás, o ar que borbulhava nas fendas. Mas a principal ameaça eram os desabamentos, pois o problema não estava só na pequena quantidade de escoramentos, e sim no terreno, que se encontrava minado de água”. (Emile Zola, Germinal)



No interior das minas emana o grisu, gás composto principalmente de metano e altamente explosivo. A “coup de grisu” é a explosão causada por chamas e faíscas. Para evitá-la as lanternas dos mineiros no séc. XIX tinham a chama protegida por uma tela, o ar ao redor não entra em contato com a chama.

O grisu e a poeira combustível, conhecida como "poussiers" eram o maior temor dos mineiros e causa de muitos acidentes em Saint-Étienne. O período de 1860 e 1890 foi o das grandes catástrofes na bacia do Loire, os acidentes mais significativos foram :

- em 08 de dezembro de 1871 uma explosão no poço Jabin deixou 72 mortos
- em 04 de fevereiro de 1876 o mesmo poço Jabin em nova explosão deixou 186 mortos
- em março de 1887 são os poços Châtelus I e Culatte que explodem e deixam 79 mortos
- em julho de 1889 é a explosão do poço Verpilleux n°1 que deixa mais de 200 mortos e toda a parte leste de Saint-Étienne em chamas, no mesmo mês mais um poço explode, o poço Neuf e deixa mais 25 mortos
- em 29 de julho de 1890 explode o poço Pélissier e 113 mineiros não retornam
- em dezembro de 1891 o puits de la Manufacture deixa 60 mortos
- em julho de 1899 outra explosão no Pélissier deixa 48 mortos



O trabalho no fundo das minas, era feito pelo “mineur de fond”, era o que expunha o trabalhador a mais riscos e a maior desgaste físico. Os poços se abriam em túneis, cada vez mais fundos pelo esgotamento dos veios. Os túneis chegavam a 500, 600 metros de profundidade, quanto mais fundos, mais instáveis, quentes e cheios de grisu.



Eu não tinha oito anos quando comecei, e agora tenho cinquenta e oito. Fiz de tudo lá embaixo, puxei e carreguei vagonetes com carvão e durante dezoito anos fui britador. Então, por causa das minhas pernas, me puseram para aterrar, dessaterrar, fazer consertos até o dia em que me tiraram lá de baixo por ordem do médico. E há cinco anos sou carroceiro. Que tal ? Cinquenta anos de mina e quarenta e cinco lá no fundo !” (Emile Zola, Germinal)

“... lembrava-se das histórias que o avô contava, da época em que não havia elevadores nas minas e as crianças de dez anos carregavam o carvão nas costas, subindo escadas sem corrimãos.” (Emile Zola, Germinal)



A altura das galerias variava, as principais tinham entre 2 e 2,5m., para possibilitar a manobra de equipamentos e transporte dos vagonetes cheios, as adjacentes iam diminuindo, chegando a uma altura tão pequena que as lampadas (de 30 cm.) tinham que ficar inclinadas. 


Fonte: coleção Thesouro da Juventude, vol.3, s/data


Dentro das minas, na superfície e no sub-solo, também trabalhavam mulheres e crianças. Até 1841 era possível encontrar crianças com menos de oito anos de idade trabalhando, somente em 1874 é que o trabalho de menores de 13 anos foi proibido (Jacques Robert já estava no Brasil com a família).

Não se pode deixar de mencionar a tração animal (cavalos ou pôneis) usada nas minas tanto na superfície quanto no subsolo, o último cavalo em galerias francesas terminou seu trabalho em 1969.



Fonte: coleção Thesouro da Juventude,
vol.3, s/ data

Para conhecer as técnicas construtivas de minas, túneis, terrenos, rochas, segurança, ferramentas, gases. etc ... clique http://www.geopedia.fr/mines-techniques.htm

Continua ....