terça-feira, 6 de agosto de 2013

NAS MINAS DE CARVÃO - parte 1

Jacques Robert, o pai dele Antoine Robert, o pai do pai dele André Robert .... enfim, a família Robert desde muito trabalhou em minas de carvão na França.

O carvão é utilizado na França desde o séc. XIV. A bacia produtora de carvão de Saint-Etiènne abrange uma área de 22.000 ha. entre o Rive-de-Gier a leste e Firminy a oeste. A exploração começou a leste por Rive-de-Gier em 1750 se estendendo a oeste no séc. XIX. Em 1820 eram 40 empresas mineradoras, algumas se fundiram e formaram a Compagnie des mines de la Loire em 1837, em 1854 Napoleão III dividiu essa gigante em 4 empresas, em 1913 haviam 17 empresas, em 1935 eram 11, em 1946 todas foram nacionalizadas, em 01 de julho de 1983 o último poço parou de funcionar, o poço Pigeot em La Ricamarie.

Diferente das outras regiões da França e talvez do mundo, a extração de carvão em Saint-Etiènne era urbana, os poços estavam localizados dentro da cidade. Atualmente é difícil localizar os 192 poços existentes, somente pelos nomes das ruas e regiões. Apenas um poço continua visível, é o Puit Couriot onde está instalado o Museé de Mines de Saint-Étienne, com seus grandes montes de entulhos (“crassiers”) ao lado.

Para conhecer todos os poços de Saint-Etiènne, clique aqui.
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Cartão postal enviado por Joseph Robert a seu irmão Antônio - 1916

Olhava e começava a distinguir cada parte da mina: o galpão onde o carvão é peneirado, a torre do sino do poço, a grande casa da máquina da extração, a torre da bomba d'água. Para ele, essa mina parecia um animal feroz pronto para devorar o mundo.” (Emile Zola, Germinal)


Fonte: coleção Thesouro da Juventude, vol.3, s/data


As minas tinham o trabalho de superfície e o trabalho no fundo. Na superfície era mais leve e para “privilegiados”, incluía entre outras coisas o trabalho com carregamento, seleção e armazenamento do carvão, o trabalho com equipamentos e o trabalho com as lampadas na” lampesterie”.



Cada mineiro possuia sua própria lampada marcada com suas iniciais e que deveria ser deixada na sala das lampadas para limpeza e manutenção. Essas lampadas eram de fundamental importância para a vida dos mineiros.

Lâmpada modelo de Saint-Etiènne
meados do séc. XIX

Como os mineiros viviam em contato direto com o gás grisu, nem sentiam mais o peso das pálpebras. Às vezes quando a luz do lampião enfraquecia e tornava-se azulada, um mineiro colava o ouvido contra o veio e escutava o ruído do gás, o ar que borbulhava nas fendas. Mas a principal ameaça eram os desabamentos, pois o problema não estava só na pequena quantidade de escoramentos, e sim no terreno, que se encontrava minado de água”. (Emile Zola, Germinal)



No interior das minas emana o grisu, gás composto principalmente de metano e altamente explosivo. A “coup de grisu” é a explosão causada por chamas e faíscas. Para evitá-la as lanternas dos mineiros no séc. XIX tinham a chama protegida por uma tela, o ar ao redor não entra em contato com a chama.

O grisu e a poeira combustível, conhecida como "poussiers" eram o maior temor dos mineiros e causa de muitos acidentes em Saint-Étienne. O período de 1860 e 1890 foi o das grandes catástrofes na bacia do Loire, os acidentes mais significativos foram :

- em 08 de dezembro de 1871 uma explosão no poço Jabin deixou 72 mortos
- em 04 de fevereiro de 1876 o mesmo poço Jabin em nova explosão deixou 186 mortos
- em março de 1887 são os poços Châtelus I e Culatte que explodem e deixam 79 mortos
- em julho de 1889 é a explosão do poço Verpilleux n°1 que deixa mais de 200 mortos e toda a parte leste de Saint-Étienne em chamas, no mesmo mês mais um poço explode, o poço Neuf e deixa mais 25 mortos
- em 29 de julho de 1890 explode o poço Pélissier e 113 mineiros não retornam
- em dezembro de 1891 o puits de la Manufacture deixa 60 mortos
- em julho de 1899 outra explosão no Pélissier deixa 48 mortos



O trabalho no fundo das minas, era feito pelo “mineur de fond”, era o que expunha o trabalhador a mais riscos e a maior desgaste físico. Os poços se abriam em túneis, cada vez mais fundos pelo esgotamento dos veios. Os túneis chegavam a 500, 600 metros de profundidade, quanto mais fundos, mais instáveis, quentes e cheios de grisu.



Eu não tinha oito anos quando comecei, e agora tenho cinquenta e oito. Fiz de tudo lá embaixo, puxei e carreguei vagonetes com carvão e durante dezoito anos fui britador. Então, por causa das minhas pernas, me puseram para aterrar, dessaterrar, fazer consertos até o dia em que me tiraram lá de baixo por ordem do médico. E há cinco anos sou carroceiro. Que tal ? Cinquenta anos de mina e quarenta e cinco lá no fundo !” (Emile Zola, Germinal)

“... lembrava-se das histórias que o avô contava, da época em que não havia elevadores nas minas e as crianças de dez anos carregavam o carvão nas costas, subindo escadas sem corrimãos.” (Emile Zola, Germinal)



A altura das galerias variava, as principais tinham entre 2 e 2,5m., para possibilitar a manobra de equipamentos e transporte dos vagonetes cheios, as adjacentes iam diminuindo, chegando a uma altura tão pequena que as lampadas (de 30 cm.) tinham que ficar inclinadas. 


Fonte: coleção Thesouro da Juventude, vol.3, s/data


Dentro das minas, na superfície e no sub-solo, também trabalhavam mulheres e crianças. Até 1841 era possível encontrar crianças com menos de oito anos de idade trabalhando, somente em 1874 é que o trabalho de menores de 13 anos foi proibido (Jacques Robert já estava no Brasil com a família).

Não se pode deixar de mencionar a tração animal (cavalos ou pôneis) usada nas minas tanto na superfície quanto no subsolo, o último cavalo em galerias francesas terminou seu trabalho em 1969.



Fonte: coleção Thesouro da Juventude,
vol.3, s/ data

Para conhecer as técnicas construtivas de minas, túneis, terrenos, rochas, segurança, ferramentas, gases. etc ... clique http://www.geopedia.fr/mines-techniques.htm

Continua ....