terça-feira, 13 de agosto de 2013

NAS MINAS DE CARVÃO - parte 2

Um grave problema para os mineiros é a silicose, doença pulmonar causada pela inalação da poeira da silica (particulas cristalinas do dióxido de silício). A exposição à sílica e ao silicato acontece em quase todos os trabalhos de mineração, de obras e túneis. A doença se manifesta de oito a dez anos após a exposição ao mineral, inicialmente causando cansaço, dor toráxica, tosse e expectoração. É uma doença crônica, progressiva, irreversível e ainda hoje incurável.

A insalubridade, o excesso de horas de trabalho (12 horas ou mais ao dia), o salário insignificante que não atendia às necessidades mínimas dos trabalhadores (recebiam quinzenalmente de acordo com a produção), sem leis para a regulamentação do trabalho, nem aposentadoria, aumentou o movimento dos trabalhadores mineiros.

A criação de sociedades de ajuda mútua e sindicatos foi resultado de muita luta e sacrifícios. As reivindicações dos movimentos operários eram brutalmente reprimidas, várias vezes com sangue. As primeiras greves foram particularmente agressivas. Em abril de 1834 a greve dos passementier e dos mineiros terminou com 6 mortes, a greve de 1846 com outras tantas sem contar presos e feridos.

Uma das maiores greves do Loire foi a de 10 de junho de 1869 em Firminy que reinvidicava principalmente jornada de 8 horas de trabalho. No dia 16, na aldeia du Brûlé (La Ricamarie) o exército atirou e fez 13 mortos, entre eles uma mulher e uma criança e feriu cerca de 50 pessoas. Estima-se que 18.000 mineiros da bacia do Loire estavam em greve. Em 26 de junho os mineiros conseguiram sucesso significativo: jornada de 8 horas para os trabalhadores “du found” (sub-solo), centralização dos fundos de ajuda e a participação dos mineiros na gestão desses fundos. Sobre a Fusillade du Brûlé, leia aqui e aqui.

Acervo dos Archives departamentales de la Loire
Acima fotografia sobre uma placa de vidro tirada durante o incidente de Brûlé, dia 16 de junho de 1869. (19,5 cm. X 14 cm.)

Na cronologia abaixo estão as leis e fatos mais importantes para o movimento trabalhista francês:

1791 – lei que criminaliza as greves
1841 – proibição do trabalho infantil de menores de 8 anos, limitação de 8 horas por dia o trabalho de menores de 8 a 12 anos e de 10 horas por dia para os de 12 a 16 anos
1852 – lei de salário mínimo
1864 – lei que termina com o delito da greve
1864 – criação da Primeira Internacional (Associação Internacional de Trabalhadores)
1869 a 1871 – greves em numerosas cidades francesas
1870 a 1871 – guerra franco-prussiana
1871 – comuna de Paris
1873 a 1896 - “grande depression”
1873 - imigração de Jacques Robert e família para o Brasil
1874 – criação da inspeção do trabalho
1874 – proibição do trabalho ao menor de 13 anos

Em 1870 o Imperador francês Napoleão III declarou guerra ao Reino da Prússia, a Guerra Franco-Prussiana. Terminada a guerra e derrotada a França, houve o pagamento de pesada indenização, o que causou um círculo conhecido: falta de crédito, falta de consumo, queda de produção, desemprego, queda de salários …. Essa crise durou até 1896 e atingiu vários países da Europa e EUA.

Esse pode ter sido um outro  importante motivo da imigração de Jacques Robert em 1873 para o Brasil: a recessão e a falta de melhores expectativas. Ou seja, aliada à questão da insalubridade, da saúde e da periculosidade, pelas explosões e desmoronamentos, estava a questão econômica. 

O trabalho nas minas e suas dificuldades, as greves, a vida política e social dos mineiros do séc. XIX está relatada magistralmente no livro de Émile Zola, Germinal. Zola nasceu em 1840, portanto é contemporâneo de Jacques Robert, este nascido em 1842. Germinal foi lançado na França em 1885 e para escrevê-lo Zola trabalhou alguns meses em minas de carvão do norte do país (Pas-de-calais) onde história do livro também se passa entre os anos de 1866 e 1867.

Para ler sobre a relação história e literatura, minas de carvão e Germinal, clique aqui.

Bibliografia e imagens:

http://www.emse.fr/AVSE/mine.htm
http://mineralogica.pagesperso-orange.fr/
http://le-journal-de-charbon.blogspot.com.br/
Baran, Denys – Les sources de l'histoire minière aux Archives départamentales de la Loire, in Documents pour l'histoire des techniques, n° 16, 2° semestre 2008.
gravuras lindíssimas: 
http://www.lectura.fr/expositions/promenade/galerie-chapitre8-image1.html
fotos das minas de Pas-de-Calais (norte da França):
http://www.youtube.com/watch?v=g1xD6_NDmdI&feature=related