sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A REVOLUÇÃO FEDERALISTA - PORQUE GUSTAV FUGIU ? - parte 2

Como vimos, o sul do país entre 1893 e 1895 estava envolvido nas manobras revolucionárias. Gustav Richard Rühe morava na região de Massaranduba, ainda distrito de Blumenau. Segundo sua filha Helena Rühe, foi por manifestar sua posição política que Gustav fugiu de Blumenau e partiu para Curitiba acompanhado da mulher Marie Tekla e seus cinco filhos, Hermann, Otto, Luiz, Maria e Emília, a caçula nascida em setembro de 1893. Para isso vendeu tudo que tinha em Blumenau, mas não conseguiu receber.  A família, “muito bem recebida em Curitiba”, foi morar no Largo da Ordem, numa boa casa. A sexta criança, a própria Helena, nasceu em Curitiba, no dia 8 de dezembro de 1895. 

De maneira mais específica, algumas questões podem ter influenciado a familia na sua vinda a Curitiba:

Maragatos na cidade de Urussanga - SC


Em 29 de novembro de 1893, 1.600 maltrapilhos homens, do general rebelde Gumercindo Saraiva entraram em Blumenau. Noticiou o jornal “Blumenauer-Zeitung” : “A tropa, que em grande parte é composta por negros e uruguaios, está em miserável estado, e muita gente anda praticamente nua... A tropa causa uma péssima impressão”. Apesar de prometerem não se envolver com a população, não foi o que ocorreu, saquearam e roubaram alimentos. Foram seguidos pelos legalistas que chegaram igualmente rotos e esfomeados. Ambas as tropas seguiram para a atual cidade de Itajaí onde se deu o embate. As tropas legalistas perdedoras fogem para o sul e as rebeldes voltam a ocupar Blumenau. Segundo Silva, “o pânico como era natural, voltou a dominar a população blumenauense. Famílias inteiras abandonaram apressadamente a Vila, escondendo-se nas mais longinquas casas de colonos, no Interior”.




Na região de Massaranduba (Guaramirim), onde residia Gustav Rühe com a família, alguns colonos alemães foram degolados por federalistas. Dois casos foram contados por Emílio da Silva. O primeiro deles foi Frederico Neghebron que abandonado pela mulher e filhos, que voltaram para o Tirol, caiu na bebida. “Não era de se esperar outra coisa. Metia-se em desentendimentos com o inspetor de quarteirão (espécie de delegado) do Jaraguá, Manoel Alves de Siqueira. Este passara a servir aos federalistas, ali chegados com a tropa de Gumercindo Saraiva, vindos de Joinville para atacar Blumenau, pela retaguarda, subindo pelo picadão do morro rio da Luz ao rio do Testo …. A 16 (de dezembro de 1893) chegava Gumercindo (Saraiva, general federalista) e pelas 10 horas da manhã quando ordenara a execução do infeliz Negherbon pelo seu degolador, Adauto. O local da execução foi na barranca do rio Itapocuzinho, junto do primeiro porto das canoas”.

O outro caso foi o de Alberto Schulz degolado em 26 de dezembro de 1893. Por não saber falar o português, o colono desentendeu-se com um cabo federalista e acabou por feri-lo. Terminou morto. “... então vi ao lado das barracas um homem. Parecia estar amontoado, junto a uma árvore canela-pimenta, como se estivesse envolto em pano encarnado no pescoço. Era o pai, estava morto, degolado”.

O pesquisador Toni Jochem conta mais um caso ocorrido com antigos vizinhos e aparentados de Maria Tekla Rühe, os irmãos Eger, em 1894, desta vez na Colônia Santa Isabel (atual município de Águas Mornas-SC), quando “ … dois membros da Colônia ..., residentes na Segunda Linha, que haviam se mudado para Palhoça somam-se às vítimas da situação. Um deles havia-se manifestado contra a política do Governo e, por isso, foi expulso da colônia, mudando-se para Palhoça. Lá todos pensavam que tudo estava bem, mas alguns vizinhos o denunciaram e, por isso deveria ser preso. Os soldados vieram prendê-lo e com a ajuda de seu irmão desacatou as ordens dos policiais ameaçando-os de morte. Na noite seguinte, em 26 de junho de 1894, os soldados retornaram, desta vez com reforço e cercaram a casa do acusado. Os dois irmãos recusaram-se a abrir a porta, que foi arrombada a bala. Um desses tiros acertou o inocente e quando seu irmão, o acusado, foi defendê-lo também foi ferido de morte. Ficaram assim, duas viúvas, cada qual com três filhos menores …”

O ambiente bélico na Blumenau de 1893 e 1894, com tiroteios e avanços de tropas no centro da Vila, os assassinatos dos colonos alemães na região de Massaranduba e dos irmãos Eger em Palhoça devem ter influenciado a transferência de Gustav com a família para a cidade de Curitiba


Procissão no Largo da Ordem - ao fundo atual Casa Romário Martins

Considerando que em 8 de novembro de 1894, Gustav assinou o pagamento do saldo devedor de seu lote em Blumenau e que em dezembro do ano seguinte (1895) nascia sua filha Helena em Curitiba, podemos concluir que a mudança da família ocorreu entre novembro de 1894 e novembro de 1895.




No entanto, é difícil precisar se Gustav simpatizava com a causa federalista ou legalista. Apesar de Evaldo Pauli descrever uma Blumenau legalista, em novembro de 1893 a cidade foi tomada pelos rebeldes que causaram pânico na população. Por poucos meses, no início de 1894, a tranquilidade curitibana foi ameaçada durante a revolução, enquanto foi tomada pelos rebeldes, antes da chegada da família Rüher. Certamente a mudança para a capital paranaense foi uma tentativa de preservar a família da violência e das carências provocadas pela revolução, teria existido algum outro motivo ????

Rua S.Francisco, ao fundo torre da igreja S.Francisco das Chagas
Fonte: bndigital.bn.br

Largo da Ordem  - 1906 - daqui


Bibliografia:

JOCHE, Toni – A epopéia de uma imigração,
PAULI, Evaldo – Santa Catarina – Primeira república, UFSC,
PESAVENTO, Sandra Jatahy – A Revolução Federalista, São Paulo: Brasiliense, 1983.
SILVA, Emílio da – Jaraguá do Sul, II° livro, um capítulo na história do Vale do Itapocu, Jaraguá do Sul: Ed do autor, 1975.

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