sexta-feira, 28 de setembro de 2012

EM SÃO BENTO DO SUL - parte 1

Podemos pensar em três motivos para a ida dos Rühe (Rüher) para São Bento Bento do Sul. Num primeiro momento sair da zona urbana e ir para a zona rural a que estavam acostumados. Entre a saída de Blumenau e o retorno à propriedade rural de São Bento a família passou cerca de 6 anos vivendo em cidades.

Outro motivo seria a aquisição de terras. Enquanto esteve em cidades (Curitiba, Rio Negro ou mesmo em São Bento), Gustav alugava suas residências, não foi proprietário de terras, grande sonho dos imigrantes alemães. Em São Bento, "Vendiam as cascas (de araçá) para curtir couro, com isso pagaram dois terrenos" (Helena Rüher, aqui).

Finalmente, um motivo político, São Bento do Sul foi a primeira cidade de Santa Catarina a ter um governo legalista.

Assim como seus pais, ao adquirirem seu lote em São Bento, Gustav e Tekla tiveram que trabalhar nele. Abrindo uma clareira e construindo sua primeira casa. "Na estrada dos Bugres tiraram um pouco de mato, fizeram um rancho com palmeira de palmito e coberto de palha ..." (uma foto desse primeiro tipo de abrigo está na postagem "Os Rühe em Blumenau"). E não é que  um dia ventou tanto que a cobertura da casa caiu e a mãe Tekla protegeu as crianças embaixo de uma mesa !! Esse fato marcou tanto Helena Rüher que ela se lembrou dele em idade avançada !


Acervo do Arquivo Histórico de São Bento do Sul-SC
Esse tipo de construção representava a assimilação da cultura cabocla, os Rüher já estavam bem abrasileirados nesta ocasião, faziam "pão com farinha de milho, cará ou taiá" em vez do tradicional centeio ou trigo, por exemplo.

Na estrada dos Bugres a produção agrícola para subsistência da família de Gustav e Tekla se baseava na plantação de “cará, taiá, milho, … cana-de-açúcar, café, laranja, banana, tangerina … criação de porcos, gansos, galinhas”. Além disso, beneficiavam milho no monjolo, Tekla ainda costurava e Gustav tocava bandoneon em festas e casamentos. Complementavam a renda coletando cascas de araçá para venderem aos curtumes. Em 1894 existia 4 curtumes na cidade.

Não se pode deixar de mencionar a caça, que teve papel importante tanto economicamente quanto culturalmente. Economicamente também representava aumento da renda familiar,  os Rühe “caçavam paca, veado, porco do mato, anta … jacutinga, jacu, macuco” que vendiam na cidade de São Bento. Culturalmente a caça estava vinculada à profusão de Sociedades de Caça e Tiro que até os dias de hoje existem nas cidades de colonização alemã como Blumenau, Joinville e São Bento do Sul entre outras.


Estrada dos Bugres - "... bem lá embaixo "
A questão da alimentação foi ponto importante na vida dos imigrantes recém-chegados, segundo Seyfert "... registros apontam para os efeitos desastrosos da alimentação disponível nos primeiros tempos da vida colonial, a "náusea da carne seca", o feijão preto desconhecido na Europa só superada a partir das primeiras colheitas e seu complemento, a caça". 

Por tudo isso percebe-se que em São Bento do Sul a família Rüher já estava bem adaptada aos costumes da terra (aos menos os alimentares !!).

No seu casamento, no ano de 1884, ainda em Blumenau, Gustav Richard Rühe declara ser charuteiro. Provavelmente iniciou-se no trato da terra para em seguida aprender a arte da confecção de charutos, atividade que continuou exercendo em São Bento do Sul.

Para o colono a produção de fumo e a confecção de charutos, requeria poucos investimentos, apenas uma galpão para armazenagem e secagem da folha e mão de obra familiar. 

Em 1885, o Relatorio com que ao exm. sr. coronel Manoel Pinto de Lemos, 1.o vice presidente, passou a administração da provincia de Santa Catharina, o dr. José Lustosa da Cunha Paranaguá, em 22 de junho de 1885, Cidade do Desterro, Typ. do "Jornal do Commercio," diz a respeito de Blumenau:



No Brasil a produção de fumo foi bastante expressiva, na época colonial chegou a ser o segundo produto de exportação, tendo a Bahia papel de destaque. Em Santa Catarina o fumo e os charutos também foram importantes para o desenvolvimento econômico da região. Ainda hoje a produção de folhas de fumo é expressiva em todo estado de Santa Catarina.



Acima a bela vista da colina da família Behringer em Ibirama-SC, o barracão da direita é utilizado para secagem das folhas de fumo.

Foto gentilmente cedida por Helmtraut Behringer.