terça-feira, 8 de março de 2016

OS OSSOS DO BARÃO SALVATORE DRAMMIS - parte 3

                        


O documento citado nas duas postagens anteriores, aqui e aqui, tem uma continuação na Wikipedia. O ator principal continua sendo Salvatore Drammis, pai de Antônio.

"Em 1860, Salvatore Drammis equipou e forneceu, por sua conta e risco, um  grande número de jovens ao general Garibaldi. Em 1861, à frente de cerca de 100 homens pagos por ele, Salvatore Drammis venceu a reação e livrou da invasão não apenas a sua localidade, mas também outras vilas."
General Garibaldi ? Esse mesmo, também nosso Garibaldi que arrastou um bonde pela Anita e um navio pelos pampas. Que esteve no sul brasileiro participando  da Revolução Farroupilha (1835-1845), lutando por um Rio Grande do Sul para os gaúchos. Que em 1848 voltou para a Itália lutando pela sua Unificação.


Acima,  parte do quadro de Lucílio de Albuquerque que mostra o transporte do lanchão Seival.

"Pareceu à sua Majestade que era merecedor da "Croce di Cavalieri del Ordine del SS Maurizio e Lazzaro", assim como de uma medalha de prata por valor militar."


O Barão teria recebido a ordem de Cavaleiro após 1861. Para saber mais, clique aqui.

Em 1866, Salvatore Drammis, foi nomeado Comendador da Ordem de SS Maurizio e Lazzaro, veja aqui







"O Barão de Drammis se envolveu também no cultivo de gramíneas, melhorando o rebanho bovino e ovino de sua propriedade. Depois de muitas dificuldades e experiências aclimatou cereais diversos de primeira qualidade e com isso recebeu a medalha de bronze da Exposição Internacional de Londres, do rei Victor Emanuele II recebeu uma promoção para a "Ordine dei SS Maurizio e Lazzaro" correspondente da Societá Reali di Catanzaro."
Sobre a Exposição Internacional de Londres, falaremos no próximo artigo.

"Dois anos depois, Salvatore Drammis se ocupou com o cultivo de algodão, e as amostras que enviou para a Esposizione di Torino muito fizeram para que recebesse das mãos do dr. Luigi Grimaldi, então secretário da Sociedade, uma medalha de prata. O barão tinha 51 anos."
"Do seu casamento com Dona Mariangela Fazio,  descendente de ilustre família da Albânia, há cinco séculos neste país, nasceram seis filhos."
Salvatore Drammis casou com Mariangela  Fazio em Carfizzi, veja aqui. Conforme visto acima, desse casamento nasceram 6 filhos, entre eles:  Nicola, Antônio, Domenica, Aurora.

A primeira filha, uma mulher, parece ter sido Domenica Drammis, a Dona Mica, nascida em 1838, leia mais sobre ela aqui

O filho homem mais velho de Salvatore e Mariangela, foi Nicola, casado com Giovannina Sacco e que faleceu sem filhos em 1899, aos 55 anos de idade, portanto nascido perto de 1844. Uma boa história sobre ele nos conta o pesquisador Luigi Santoro, leia aqui, quando bandidos tentaram sequestrar o jovem em 1863.  Por conta da insegurança, muitas famílias scandalesas abastadas, passavam temporadas em Santa Severina, entre elas a família dos Drammis.

Nos anos iniciais da década de 1860, o sul da Itália ex-Bourbon, passou por um período de grande proliferação de ataques de banditi ou brigantaggio postunitario italiano (banditismo pós-unificação), que tomava ares de revolta camponesa, quando bandidos vitimavam principalmente os ricos e, em geral, tinham apoio dos mais humildes. Banditismo  que cresceu, entre outras coisas, pelo aumento dos impostos pós-unificação e pelas precárias condições de trabalho e de vida dos camponeses,  Se quiser saber mais sobre o banditismo do sul da Itália nesse período, clique aqui.
"Em 1860-1861, as unidades de guerrilheiros camponeses formavam-se em torno de bandos de salteadores, e à sua imagem: os líderes locais passavam a constituir polos de atração de soldados do exército Bourbon extraviados, desertores ou insubmissos do serviço militar, prisioneiros foragidos, homens, homens que temiam a perseguição por atos de protesto social durante a revolução de Garibaldi, camponeses e montanhenses que procuravam a liberdade, vingança, butins ou uma combinação e tudo isso. Tal como os bandos de salteadores comuns, essas unidades tendiam inicialmente a formar-se nas proximidades de povoações onde pudessem recrutar seus membros, estabelecer uma base nas montanhas ou florestas próximas e começar com atividades que pouco as distinguiam dos bandidos ordinários." Eric Hobsbawn
O banditismo calabrês, atravessou oceanos, chegando aqui no Brasil. Leia o trabalho de Monsma, Truzzi e Conceição, aqui, sobre um caso ocorrido no oeste paulista, São Carlos, no final do séc. XIX.  Interessantíssimo!! 

Outra história interessante sobre Nicola Drammis: Na Scandale do final do séc. XIX atribui-se a  paternidade de 4 crianças ao Barão da época, a mais velha nascida em 1874 e a caçula em 1887. Nicola foi Barão entre 1884 e 1899. Aqui lê-se que  "Giova ricordare che all’epoca, girava la voce che i quattro bambini erano figli del Barone". O texto mencionado cita o Barão Guglielmo, isto é impossível, Guglielmo nasceu em 1886 e faleceu em 1938, foi Barão entre 1910 e 1938. Para saber sobre essa história clique aqui e aqui.

O segundo filho homem,  que recebeu a baronia pelo falecimento do irmão Nicola, foi Antônio (pai de Ernesto), falecido em  fevereiro de 1910.  Pela maneira como se deu a transmissão dos direitos, da titularidade e da herança, a sucessão era pela primogenitura agnática, ou seja, de pai para filho homem mais velho ou irmão mais novo, mulheres nunca herdavam. 

E finalmente, Aurora Drammis, nascida em 1848 em Scandale em e falecida em 1849 em Crotone, veja aqui; não encontrei referências aos outros filhos do casal. 

O texto continua, citando Dona Mica, tia de Ernesto:
"Uma delas, a futura Dona Mica, irá para Nápoles estudar e frequentar a mesma escola da filha do rei Ferdinand II, com o qual as relações de afeto fraternal e amizade, como o pai Barão Drammis tinha feito com o Rei, ilustre genitor da menina. Ele ia muitas vezes para encontrá-lo na Corte. O anunciavam "Vem o Barão de Calábria", e entrava imediatamente; o Rei o recebia como um amigo."
O Rei Ferdinand II das Duas Sicílias (1810-1859), foi Rei entre entre 1830 e 1859, mais sobre ele leia  aqui.
"Nasciam fortes relações entre nobres e funcionários (?).  Para consolidar essas relações o Barão Drammis havia planejado  casar sua filha Domenica com um nobre Marquês napolitano na Corte de Ferdinand II, amigo do Rei. Mas Mica não amava o Marquês, ela amava um dos administradores do pai, desde que ele estava nas dependências do pai e também depois, quando o jovem apareceu socialmente.
"O conhecido patriota, poeta e educador Vincent Gallo-Arcuri, um fino intelectual que viveu no século XIX, dedicou  à nobre nobre senhora scandalese, Mica do Barão Drammis, a tragédia em cinco actos "Vanetta Orseolo" com nota biográfica de Bendetto Croce, publicado pelo Barbera de Florença em 1870 ... "A dedicatória: "Para o prestantissima / de coração e a mente / Senhorita Domenica Drammis de Scandale / esta tragédia / que ela foi a primeira a ler / e generosa a compartilhar / consagro ..." 


A parte  abaixo parece ter sido acrescentada posteriormente ao texto original:
"Com algumas variações a mesma coisa aconteceu com os sucessores e em seguida com o Barão da vez, com os príncipes e soberanos da Casa de a Savóia, até o último herdeiro do trono, o desafortunado Príncipe de Piemonte que o Barão Guglielmo Drammis, ainda com fresca memória, pai e avô dos atuais herdeiros Don Antônio e filhos, foi o primeiro a receber, juntamente com o Prefeito, quando nos anos trinta o Rei Umberto II deSavóia passou por Scandale."
O Rei Umberto II passou por Scandale em 1935, quando parou apenas para cumprimentar o então Barão Drammis, Guglielmo Drammis (meio-irmão de Ernesto Capozza) e o Prefeito Antonio Bonanno, veja aqui.

Fontes:

Além dos citados

Hobsbawn, Eric - Bandidos, Ed. Paz e Terra, 



Nenhum comentário:

Postar um comentário