terça-feira, 29 de março de 2016

SCANDALE




Atualmente o município de Scandale (em Crotone) possui uma área de 54 Km², faz fronteira com as cidades de Rocca de Neto, Santa Severina, San Mauro Marchesato e Cutro. A cidade possui dois núcleos habitacionais, o primeiro e principal situado nas colinas a 350m. acima do mar e o outro chamado Corazzo (de 1950), situado no vale do rio Neto. Atualmente a cidade conta com 3.300 habitantes, na época em que Ernesto imigrou (perto de 1896) tinha 1.300.

As informações turísticas são poucas e difíceis de serem encontradas na web.

Comece sua visita pela parte nova de Scandale, Na via Nazionale, procure o monumento aos caídos nas duas guerras mundiais, que contém nas suas laterais o nome dos soldados mortos. O monumento é de 1961. Para saber mais clique aqui.


Na parte velha da cidade,  o vecchio borgo será o seu melhor passeio. Ele manteve as características das antigas aldeias do século XVII com ruas estreitas e íngremes ... o casario não está bem preservado, com várias casas abandonadas e vazias.

Scandale, em amarelo a parte antiga


Chiesa dell'Addolorata (Chiesa di Maria Santissima dell'Addolorata) foi recém-restaurada e remonta à segunda metade do séc. XVI. Dentro pode-se admirar uma bela estátua da Madona chorando Jesus morto e dois altares em mármore policromado em estilo barroco. Localizada na Piazza San Francesco d'Assisi, mesma praça do Palazzo Drammis. Na capela, ao pé do altar, tem uma placa em mármore onde se lê "A devozione del Barone Drammis, AD 1900", provavelmente por algum membro da família ter escapado à morte. Para saber mais leia aqui e aqui.


Na mesma praça da igreja, do outro lado, está o Palazzo Drammis. Sobrado com entrada principal em arco e moldura retangular. No segundo andar, varandas com guarda-corpo em ferro forjado e com frontões triangulares.



Consta que o edifício foi construído no séc. XVIII. "Apresenta afrescos  ... O piso térreo era antigamente usado como celeiro e adega ....  inclui ainda uma entrada com um majestoso hall  encimado por um portal de madeira e numerosas salas atualmente usadas para depósito. Uma ampla escadaria leva ao primeiro andar, onde pode-se admirar a sala de jantar, decorada ao estilo do séc. XVIII, o terraço com vista para a praça, cozinha, despensa e quartos. ... Na parte térrea ... encontrava-se um terreno  de cerca de 3.000 m², contendo um pomar com oliveiras ..."  Daqui

A Parocchia di San Nicola Vescovo (a igreja Matriz), do séc. XVII, o edifício está sobre uma balaustrada de pedra, levantada acima do solo. A porta em arco arredondado é decorada com pedra lapidada e um brasão. Emoldurada por um frontão finamente trabalhado, caracterizado por duas pilastras caneladas com capitéis coríntios. Acima da entrada um vitral com a imagem do bispo San Nicolo, o padroeiro da cidade. No seu interior uma belíssima pia batismal bizantina da antiga Diocese  Leonia. Foto daqui



Com algum valor arquitetônico, pode-se admirar, ainda, os antigos Palazzo Baronale di Gaudioso e  o Palazzo Orsini (Não encontrei fotos, nem a localização !!!!).

Para ver fotos do entorno de Scandale, clique aqui.

Quer almoçar numa antiga propriedade dos Drammis ? Antichi Sapori de Leonia é um restaurante rural, comida italiana, mediterrânea e orgânica. Esta localizado na antiga San Leone dos Drammis. Para saber mais, veja aqui no Tripadvisor.


A culinária regional caracteriza-se pela massa caseira (eba !!!), como o covatelli (se você é calabrês, não chame cavatelli, receita aqui), uma massa curta aromatizada com molho de carne de porco ou o tagliarini com brodo de frango. 


Como segundo prato, pode-se optar por um delicioso agnello (cordeiro) ou capretto (cabrito) preparado com ervas aromáticas e azeite-de-oliva local. Por fim,  salames e queijos como o pecorino, caciocavallo e o scamorze defumado. Os doces típicos são a base de mel e farinha de castanhas. 

Acompanhando tudo isso um bom vinho calabrês. Para quem gosta de vinhos, uma sugestão de roteiro pela região está aqui.

"... Somos muitos Severinos,
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina ...."

E aposto que João Cabral nem conhecia,
essa Santa Severina ....



Santa Severina é uma pequena cidade, próxima de Scandale, cerca de 12 km, onde os Drammis se refugiavam ocasionalmente ... essa sim, uma cidade turística ...um dos borghi più belli d'Italia. Para saber sobre ela clique aqui e aqui.

Divirta-se !!

Fontes:

Crotone Turismo

Turismo em Scandale, aqui e aqui

Vinhos aqui e aqui

Algumas fotos postadas são daqui, outras do StreetView






terça-feira, 22 de março de 2016

OS BARÕES ASSINALADOS

Nada a ver com Camões ;(

Sempre tentam dividir a humanidade. Seja por cores; por sexo; entre ricos e pobres; entre os que foram pra Disney e os que não foram (coisa de Suassuna); os do norte e os do sul; os crentes em Deus ou Alá ou Jeová; palmeirenses e corintianos, … e também entre nobres e plebeus.

Os nobres fazem parte da classe dominante. “Mas nem todas as classes dominantes constituem uma nobreza. Para merecer tal nome, ela deve, ao que parece, reunir duas condições: primeiro, a posse de um estatuto jurídico próprio, que confirma e materializa a superioridade a que aspira; em segundo lugar, é preciso que esse estatuto se perpetue pelo sangue-salvo" (herança). Marc Bloch em Sociedade Feudal.

Ou seja, o nobre é reconhecido pelo nascimento, pela fortuna, pelo título e pela lei. O nobre é titulado, mas nem todo titulado é nobre, não se deve confundir titularidade com nobreza.

Um nobre é nobre pelo nascimento, pela família, pela hereditariedade. O título é um diploma, um pedaço de papel que acompanha esse nobre. Pedaço de papel que pode ser vendido em caso de necessidade financeira, por exemplo, como uma jóia ou um quadro. O título em si é também um patrimônio de família.



Nas imagens acima, como eram nomeados os Drammis no Ufficio dello Stato Civile de Scandale.  Na primeira o tio de Ernesto, na segunda a avó.

No início do séc. XIX, a família Drammis comprou um latifúndio e com ele recebeu o direito ao título. Sobre isso, leia aqui. O direito ao titulo não necessariamente faria do plebeu Drammis, um nobre, mas faria do plebeu Drammis, um Barão. Um Barão plebeu,  pertencente à nova burguesia agrária enriquecida, e nesse caso em especial, titulado.

(Como isso me lembra os nossos Coronéis nordestinos !)

O tema nobreza  ainda fascina a  Itália contemporânea. Existem centenas de publicações e  listas da nobreza, atualizadas ou datadas, sites que vendem diplomas, brasões, emblemas ou lembranças.

Uma das publicações sobre a nobreza italiana mais importantes é o Libro d'oro della nobiltá italiana, com várias informações sobre as famílias, inclusive genealógicas. Esse livro foi criado em 1889, depois da Itália unificada, anteriormente a listagem era regional. Mesmo depois dos títulos nobiliárquicos terem sido extintos na Itália no ano de 1948, o livro continua sendo atualizado, a ultima edição atualizada é de 2010. Não consegui acesso online ao livro.  Para saber mais clique aqui.


Uma outra publicação é o L'Annuario della nobiltá italiana, que começou a ser publicado em 1879 por Giovanni Battista di Crocallanza. Os 3 volumes  da edição de 1886-1890, estão disponíveis online aqui.

Outras listas disponíveis online:

Lista das famílias nobres italianas do Reino d'Itália, com 13.267 nomes,  aqui.
Lista das família enobrecidas pelo Papa, aqui.
Lista das famílias de nobreza generosa, aqui.
Lista das famílias notáveis italianas, aqui
Listas oficial da famílias inscritas no Corpo della Nobilitá Italiana, aqui
Nobili Napoletani, aqui

Existe ainda uma lista geral e completa das famílias nobres  constantes na  31ª ed. do Annuario, em pdf, uma unificação das listas cima, e nela ...


Em nenhuma das listas e livros que pesquisei encontrei "Drammis", o que corrobora com a não-nobreza da família, condição confirmada pelo pesquisador scandalese Luigi Santoro.

No Brasil Imperial, a coisa se dava de maneira diferente. Aqui não existiam linhagens nobres ... Claro ! Comparados com a Europa, ainda somos uma nação jovem ... sem gerações de sangue-azul, sem a nobreza familiar e milenar. Os nossos nobres recebiam a titularidade diretamente do Imperador. Eram grandes proprietários de terras, como o Barão de Santa Justa (já citado neste blog); grandes figuras nacionais, em agradecimento aos bons serviços prestados,  como o Duque de Caxias por sua ação na Guerra do Paraguai; grandes intelectuais, como o Barão de Vila do Conde, o Dr. João Gomes Ferreira Veloso.

Aqui a nobreza tinha particularidades. A titularidade  era pessoal e intransferível,  ou seja era vitalícia e não hereditária. Assim, por exemplo, o fazendeiro que fosse Barão seria sempre Barão, mesmo se vendesse suas terras.  Não existia, como na Itália, a relação terras-título. Esse fazendeiro seria o Barão, mas não passaria seu título para seu filho, assim por exemplo, existiram o Barão de Santa Justa e o Segundo Barão de Santa Justa, Jacinto Alves Barbosa pai e Francisco Alves Barbosa filho.

Interessante e diferente em relação à Europa era a nomeação dos novos nobres. Aqui, era um tal de Barão de Sirinhaém,  Barão de CoruripeVisconde de Quiçamã, ... nomes de origem indígena e local,  os preferidos do Imperador,
"... para construir um Império na América, o rei seguia as regras primeiras da nobreza européia - guardava a hierarquia dos títulos e suas instituições -, mas inovava nos nomes. Nesse terreno éramos mais dos que nunca uma corte tropical." (pg. 179, Schwarcz)
 Aqui, os nobres perderam seus títulos com a queda da monarquia, em 1889. Na Itália, apenas depois da Segunda Guerra Mundial !! Lá, o direito nobiliárquico é matéria viva, aqui, se é que existe, é incipiente, old fashion.

Na Europa existe um verdadeiro mercado para títulos nobiliárquicos, principalmente ingleses, que são vendidos em sites, veja aqui,  ou oferecidos em leilões, veja aqui.

Nesse site aqui, oferecem e vendem brasões de famílias italianas, inclusive Drammis, será autentico ?


Fontes:

Além dos sites acima,

Costa, Antônio Luiz M.C. - Títulos de nobreza e hierarquias, um guia sobre as graduações sociais na história, Ed. Draci  (Muito legal !!)

Schwarcz, Lilian Moritz - As Barbas do Imperador, Cia das Letras

Collegio Araldico italiano, clique aqui.

Corpo della Nobilitá Italiana, de 1953, aqui

Treccani, a cultura italiana, o tema Nobilitá em várias enciclopédias, aqui






terça-feira, 15 de março de 2016

O BARÃO NAS ÁRVORES


Luiza Capozzi >> pai: Ernesto Capozzi >> pai biológico: Antônio Drammis >> pai: Salvatore Drammis
O Barão Salvatore Drammis nas árvores, no pomar, na roça ... mas de longe, como disse Marc Bloch sobre o senhor feudal: "pôr a mão na enxada ou na charrua seria para ele um sinal de decadência".
"O Barão Drammis se ocupou da pecuária e também do cultivo de gramíneas. Tendo introduzido em sua propriedade a criação gado e ovelhas de raças estrangeiras, obteve a partir do cruzamento dessas raças, um rebanho que se acreditava era superior ao existente na Calabria. Ele também atendia outros proprietários (criadores) por possuir touros. 
Salvatore Drammis, depois de muitas dificuldades e longas tentativas, aclimatou vários grãos de cereais de primeira qualidade, e por isso recebeu a Medalha de Bronze do "Salão Internacional de Londres" (1862) e também recebeu do rei Vittorio Emanuele II, uma promoção para a Ordem da SS Maurice e Lazarus, correspondente da Societá Reale di Catanzaro." Daqui.
Percebe-se que a atividade principal da família Drammis em Scandale era a agropecuária, e com sua produção participava de exposições e eventos internacionais para qualificação e divulgação dos produtos.

No Official Descriptive Catalogue, International Exhibition 1862, Kingdom of Italy, aparecem os diferentes tipos de grãos de trigo apresentados por Salvatore Drammis, veja aqui, na pág. 88.


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Não esquecer que o alimento básico italiano era (e é) o pão e a pasta, e a qualidade do trigo estava intimamente relacionada ao status da família produtora.

O que eram essas Exposições Internacionais ?
Elas foram de grande importância na época e na Europa ... Essas exposições começaram a ser realizadas a partir de meados do século XIX, precisamente em Londres no ano de 1851. Inicialmente os estandes giravam em torno das novidades industriais e tecnológicas, aos poucos foram introduzidas as inovações na agricultura (grãos e sementes) e nas belas artes. No séc. XX as exposições tornam-se temáticas, por exemplo A eletricidade (1908, Marselha), A aviação (1936, Estocolmo) .... Elas são realizadas até hoje. Em 2015 foi realizada em Milão.
Nessas Exposições eram construídos espaços diferenciados, com prédios, pavilhões, praças, .... Uma das mais famosas foi a de 1889 que deixou a Torre Eifel como herança. Outras fotos da construção da Torre Eifel, aqui.

A Exposição Internacional em Londres em 1862, ocorreu entre 01 de maio e 01 de novembro de 1862, em South Kensigton, e teve a participação de  Salvatore Drammis, que recebeu uma Medalha de Bronze. 




Abaixo a planta do pavilhão e jardins, em vermelho a localização dos estandes italianos, em verde o brasileiro.



A planta é daqui. A foto abaixo é de um estereoscópio, que permitia visão 3D da imagem, uma das novidades da época. Ela e a foto de cima são da Wikipedia. Outras fotos aqui.

Clique aqui, no Catálogo da Exposição, e veja a participação de Salvatore Drammis, que foi agraciado pela coleção de produtos e pela excelência na qualidade.
O pavilhão da Exposição não caiu no gosto dos ingleses que o chamavam de "wretched shed", foi demolido e o material utilizado na construção do Alexandra Palace. Ocuparia o local onde atualmente está o Natural History Museum de kensigton. Assim acabou a participação do Barão e o edifício em que passou pelos idos 1862.
Para saber mais sobre Salvatore Drammis e as Exposições Internacionais clique aqui

Parece que Salvatore fez umas comprinhas em Londres, um piano que levou para casa, leia aquiSegundo a neta Cleide Capozzi: 
"Nosso avô (Ernesto Capozza) tinha conhecimento musical, pois quando eu ia visitá-lo, gostava de solfejar comigo, pois na época eu aprendia piano". 
Eu arriscaria dizer que Ernesto iniciou a aprendizagem musical nesse mesmo piano inglês.
Também o Brasil participou dessas Exposições, mesmo a de 1862, por obra de D. Pedro II. O Imperador fazia questão de levar produtos indígenas como redes, remos, flechas, cerâmicas e plumagens, além de produtos agrícolas, como ... café. Abaixo o estande brasileiro na Exposição de Londres, em 1862. Com certeza, Salvatore Drammis deu uma olhada nos nossos exóticos produtos ... mal sabia ele que seu neto ....

Um dos capítulos do livro "As Barbas do Imperador" de Lilia Moritz Schwarcz, trata do tema, a foto acima é do livro e faz parte do acervo do IHGB.
Se Ernesto Capozza acompanhou a família Drammis nessa vida rural, certamente quando chegou ao Brasil, sentiu-se à vontade na Fazenda Grama em Taquaritinga.


terça-feira, 8 de março de 2016

OS OSSOS DO BARÃO SALVATORE DRAMMIS - parte 3

                        


O documento citado nas duas postagens anteriores, aqui e aqui, tem uma continuação na Wikipedia. O ator principal continua sendo Salvatore Drammis, pai de Antônio.

"Em 1860, Salvatore Drammis equipou e forneceu, por sua conta e risco, um  grande número de jovens ao general Garibaldi. Em 1861, à frente de cerca de 100 homens pagos por ele, Salvatore Drammis venceu a reação e livrou da invasão não apenas a sua localidade, mas também outras vilas."
General Garibaldi ? Esse mesmo, também nosso Garibaldi que arrastou um bonde pela Anita e um navio pelos pampas. Que esteve no sul brasileiro participando  da Revolução Farroupilha (1835-1845), lutando por um Rio Grande do Sul para os gaúchos. Que em 1848 voltou para a Itália lutando pela sua Unificação.


Acima,  parte do quadro de Lucílio de Albuquerque que mostra o transporte do lanchão Seival.

"Pareceu à sua Majestade que era merecedor da "Croce di Cavalieri del Ordine del SS Maurizio e Lazzaro", assim como de uma medalha de prata por valor militar."


O Barão teria recebido a ordem de Cavaleiro após 1861. Para saber mais, clique aqui.

Em 1866, Salvatore Drammis, foi nomeado Comendador da Ordem de SS Maurizio e Lazzaro, veja aqui







"O Barão de Drammis se envolveu também no cultivo de gramíneas, melhorando o rebanho bovino e ovino de sua propriedade. Depois de muitas dificuldades e experiências aclimatou cereais diversos de primeira qualidade e com isso recebeu a medalha de bronze da Exposição Internacional de Londres, do rei Victor Emanuele II recebeu uma promoção para a "Ordine dei SS Maurizio e Lazzaro" correspondente da Societá Reali di Catanzaro."
Sobre a Exposição Internacional de Londres, falaremos no próximo artigo.

"Dois anos depois, Salvatore Drammis se ocupou com o cultivo de algodão, e as amostras que enviou para a Esposizione di Torino muito fizeram para que recebesse das mãos do dr. Luigi Grimaldi, então secretário da Sociedade, uma medalha de prata. O barão tinha 51 anos."
"Do seu casamento com Dona Mariangela Fazio,  descendente de ilustre família da Albânia, há cinco séculos neste país, nasceram seis filhos."
Salvatore Drammis casou com Mariangela  Fazio em Carfizzi, veja aqui. Conforme visto acima, desse casamento nasceram 6 filhos, entre eles:  Nicola, Antônio, Domenica, Aurora.

A primeira filha, uma mulher, parece ter sido Domenica Drammis, a Dona Mica, nascida em 1838, leia mais sobre ela aqui

O filho homem mais velho de Salvatore e Mariangela, foi Nicola, casado com Giovannina Sacco e que faleceu sem filhos em 1899, aos 55 anos de idade, portanto nascido perto de 1844. Uma boa história sobre ele nos conta o pesquisador Luigi Santoro, leia aqui, quando bandidos tentaram sequestrar o jovem em 1863.  Por conta da insegurança, muitas famílias scandalesas abastadas, passavam temporadas em Santa Severina, entre elas a família dos Drammis.

Nos anos iniciais da década de 1860, o sul da Itália ex-Bourbon, passou por um período de grande proliferação de ataques de banditi ou brigantaggio postunitario italiano (banditismo pós-unificação), que tomava ares de revolta camponesa, quando bandidos vitimavam principalmente os ricos e, em geral, tinham apoio dos mais humildes. Banditismo  que cresceu, entre outras coisas, pelo aumento dos impostos pós-unificação e pelas precárias condições de trabalho e de vida dos camponeses,  Se quiser saber mais sobre o banditismo do sul da Itália nesse período, clique aqui.
"Em 1860-1861, as unidades de guerrilheiros camponeses formavam-se em torno de bandos de salteadores, e à sua imagem: os líderes locais passavam a constituir polos de atração de soldados do exército Bourbon extraviados, desertores ou insubmissos do serviço militar, prisioneiros foragidos, homens, homens que temiam a perseguição por atos de protesto social durante a revolução de Garibaldi, camponeses e montanhenses que procuravam a liberdade, vingança, butins ou uma combinação e tudo isso. Tal como os bandos de salteadores comuns, essas unidades tendiam inicialmente a formar-se nas proximidades de povoações onde pudessem recrutar seus membros, estabelecer uma base nas montanhas ou florestas próximas e começar com atividades que pouco as distinguiam dos bandidos ordinários." Eric Hobsbawn
O banditismo calabrês, atravessou oceanos, chegando aqui no Brasil. Leia o trabalho de Monsma, Truzzi e Conceição, aqui, sobre um caso ocorrido no oeste paulista, São Carlos, no final do séc. XIX.  Interessantíssimo!! 

Outra história interessante sobre Nicola Drammis: Na Scandale do final do séc. XIX atribui-se a  paternidade de 4 crianças ao Barão da época, a mais velha nascida em 1874 e a caçula em 1887. Nicola foi Barão entre 1884 e 1899. Aqui lê-se que  "Giova ricordare che all’epoca, girava la voce che i quattro bambini erano figli del Barone". O texto mencionado cita o Barão Guglielmo, isto é impossível, Guglielmo nasceu em 1886 e faleceu em 1938, foi Barão entre 1910 e 1938. Para saber sobre essa história clique aqui e aqui.

O segundo filho homem,  que recebeu a baronia pelo falecimento do irmão Nicola, foi Antônio (pai de Ernesto), falecido em  fevereiro de 1910.  Pela maneira como se deu a transmissão dos direitos, da titularidade e da herança, a sucessão era pela primogenitura agnática, ou seja, de pai para filho homem mais velho ou irmão mais novo, mulheres nunca herdavam. 

E finalmente, Aurora Drammis, nascida em 1848 em Scandale em e falecida em 1849 em Crotone, veja aqui; não encontrei referências aos outros filhos do casal. 

O texto continua, citando Dona Mica, tia de Ernesto:
"Uma delas, a futura Dona Mica, irá para Nápoles estudar e frequentar a mesma escola da filha do rei Ferdinand II, com o qual as relações de afeto fraternal e amizade, como o pai Barão Drammis tinha feito com o Rei, ilustre genitor da menina. Ele ia muitas vezes para encontrá-lo na Corte. O anunciavam "Vem o Barão de Calábria", e entrava imediatamente; o Rei o recebia como um amigo."
O Rei Ferdinand II das Duas Sicílias (1810-1859), foi Rei entre entre 1830 e 1859, mais sobre ele leia  aqui.
"Nasciam fortes relações entre nobres e funcionários (?).  Para consolidar essas relações o Barão Drammis havia planejado  casar sua filha Domenica com um nobre Marquês napolitano na Corte de Ferdinand II, amigo do Rei. Mas Mica não amava o Marquês, ela amava um dos administradores do pai, desde que ele estava nas dependências do pai e também depois, quando o jovem apareceu socialmente.
"O conhecido patriota, poeta e educador Vincent Gallo-Arcuri, um fino intelectual que viveu no século XIX, dedicou  à nobre nobre senhora scandalese, Mica do Barão Drammis, a tragédia em cinco actos "Vanetta Orseolo" com nota biográfica de Bendetto Croce, publicado pelo Barbera de Florença em 1870 ... "A dedicatória: "Para o prestantissima / de coração e a mente / Senhorita Domenica Drammis de Scandale / esta tragédia / que ela foi a primeira a ler / e generosa a compartilhar / consagro ..." 


A parte  abaixo parece ter sido acrescentada posteriormente ao texto original:
"Com algumas variações a mesma coisa aconteceu com os sucessores e em seguida com o Barão da vez, com os príncipes e soberanos da Casa de a Savóia, até o último herdeiro do trono, o desafortunado Príncipe de Piemonte que o Barão Guglielmo Drammis, ainda com fresca memória, pai e avô dos atuais herdeiros Don Antônio e filhos, foi o primeiro a receber, juntamente com o Prefeito, quando nos anos trinta o Rei Umberto II deSavóia passou por Scandale."
O Rei Umberto II passou por Scandale em 1935, quando parou apenas para cumprimentar o então Barão Drammis, Guglielmo Drammis (meio-irmão de Ernesto Capozza) e o Prefeito Antonio Bonanno, veja aqui.

Fontes:

Além dos citados

Hobsbawn, Eric - Bandidos, Ed. Paz e Terra, 



terça-feira, 1 de março de 2016

OS OSSOS DO BARÃO SALVATORE DRAMMIS - parte 2


O texto (em marrom) recebido da Itália, continua:

"Todos os descendentes de Salvatore Drammis se distinguiram pelas suas virtudes sociais, sua inteligência e patriotismo.  
Nicola Drammis desposou a nobre donzela Domenica Orsini, dessa união nasceu o Barão Salvatore Drammis."
 Nicola Drammis e Domenica Orsini tiveram 8 filhos. A saber: Salvatore (*1806 +1884), Antônio, Francesco, Bernardo, Simone (*1814 +1867), Luigi, Aurora e Maria. Não necessariamente nascidos nesta ordem.

"Durante 10 anos Nicola foi o chefe do Partido Liberal e aí continuou depois da Restauração. Foram seus amigos e correspondentes o historiador Pietro Colletta e o Barão Giuseppe Poerio."
"Salvatore herdou suas virtudes patrióticas que são tradicionais na família e pelas quais teve que sofrer por parte do Governo da época, que não podendo conquistá-lo pelo terror,  recorreu às honrarias e suborno, mas todas as ofertas foram recusadas com dignidade."
"No ano de 1832, que viu o terrível tremor de terra na Calábria, Salvatore Drammis fez reconstruir às suas expensas 40 casas de Scandale, sua terra natal, e entregou-as em posse aos pobres do lugar, sem procurar outra recompensa senão aquela que vem da consciência de ter cumprido um dever de filantropia." 
"Em todos os acontecimentos que se sucederam, sua pátria encontrou nele o devotamento de um verdadeiro pai: da mesma forma a afeição de seus conterrâneos é inigualável. Durante as doenças contagiosas os pobres viram-no à beira de seus leitos, para que eles não tivessem que sofrer a ausência do médico, a falta de medicamentos, nada enfim do que é necessário à humanidade sofredora."
"Em 1843, a fome dizimou as populações da Calábria Ulterior, mas os habitantes de Scandale nada sofreram, porque Salvatore Drammis providenciou para que não lhes faltassem trigo e farinha que ele comprava no mercado de Crotone a um preço inferior daquele dos vendedores locais. Toda a existência de Salvatore Drammis é marcada por numerosos e variados atos de benevolência."
Palazzo Drammis em Scandale, foto daqui

Aqui termina a tradução do texto recebido da Itália, mas ele tem uma continuação disponível na Wikipédia, que será apresentada na próxima postagem.